A exposição internacional “Lusitânia Romana. Origem de dois povos” foi inaugurada no passado dia 1 de julho, em Madrid, no Museo Arqueológico Nacional de Espanha. A iniciativa, que esteve patente anteriormente no Museo Nacional de Arte Romano (MNAR), em Mérida, Espanha, e no Museu Nacional de Arqueologia (MNA), em Lisboa, conta com a colaboração científica da Faculdade Letras da ULisboa (FLUL). O Professor Doutor Carlos Fabião, docente da FLUL e investigador do UNIARQ – Centro de Arqueologia da ULisboa, integra o comissariado científico da iniciativa, conjuntamente com o Doutor António Carvalho, Diretor do MNA e o Doutor José María Álvarez Martínez, Diretor do MNAR.
Finis terrae
Recuando até aos momentos primordiais da romanização da Península Ibérica, só cerca de 200 anos após ter vencido os cartagineses na segunda Guerra Púnica, Roma consegue dar por conquistado o território da futura Lusitânia, abrindo caminho para uma transformação complexa, progressiva e sem precedentes na história. Fim do mundo conhecido, via inestimável para o Atlântico, rica em recursos, sobretudo em minérios e em peixe, o território lusitano que se apresenta aos romanos é um mosaico de culturas e de sociedades. “A Lusitânia é uma construção romana – ela não existe antes como território único”, referiu o Professor Doutor Carlos Fabião ao jornal Público a propósito das origens desta província. A Lusitânia é, posteriormente, criada a partir da desanexação da Hispania Ulterior, provavelmente, entre os anos 16 a.C. e 13 a.C., tendo-se convertido, depois, na primeira capital efetiva da Península Ibérica, com centro em Emerita Augusta (hoje, Mérida). A Lusitânia foi, ainda, uma das províncias romanas de maior relevância: “No séc. IV a Lusitânia está na vanguarda do mundo”, afirmou o Doutor Jose Álvarez Martínez, Diretor do Museu Nacional de Arte Romano de Mérida, no mesmo artigo.
Tesouros arqueológicos portugueses em Madrid
Desde o primeiro momento, esta iniciativa cativou o público em Espanha e em Portugal, contando já cerca de 170.000 visitantes dos dois países. Têm sido, igualmente, numerosos os órgãos de informação estrangeiros e espanhóis a dedicar espaço noticioso a esta exposição, entre os quais a revista National Geographic, o jornal La Vanguardia ou a RTVE. Incontestável projeto transfronteiriço, a exposição vem acentuar a importância da divulgação do território lusitano e da revisitação da história comum aos dois países, através dos tesouros de “uma sociedade complexa e mestiça, unida, na sua cúspide, pela cidadania romana”, referiu o jornal espanhol ABC, num artigo intitulado “Lusitania Romana, nos confins do mundo conhecido” (em tradução livre). A agência noticiosa espanhola EFE, por sua vez, sublinhou a importância não só científica, mas também simbólica, de uma iniciativa que exibe ao público espanhol tesouros portugueses como a Estela de Arronches, exemplar único de uma inscrição votiva em língua lusitana, a Arúla ao deus Endovélico ou o Sarcófago das Quatro Estações, peça que nunca antes fora apresentada fora de Portugal. O mesmo jornal destaca, ainda, a exibição de peças notáveis que têm permanecido afastadas dos olhares do grande público, como os frescos provenientes da “Casa de Medusa”, villa romana da estação arqueológica de Alter do Chão e o antebraço e mão de uma estátua monumental de bronze, encontrados em Ouguela, Campo Maior.
Um olhar sobre 700 anos de história comum
Apesar de se constituir como uma das províncias romanas mais singulares, a Lusitânia é, também, uma das menos conhecidas do ocidente do Império, talvez porque o seu estudo sofreu, durante muitos anos, as vicissitudes de uma fronteira, forçosamente vincada entre Portugal e Espanha, como sugere o jornal ABC. A iniciativa ibérica permitiu reunir mais de duzentas peças da época romana procedentes de treze instituições museológicas portuguesas e quatro espanholas – de âmbito nacional, regional e local. Organizada em dez núcleos distintos, a exposição oferece um olhar sobre a história desta província romana, sendo possível testemunhar a transformação económica, tecnológica, política, cultural, religiosa e social do território, através de elementos da sua cultura material com grande valor histórico e arqueológico.
Organizada conjuntamente pela Acción Cultural Española (AC/E ), pelo Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, pela Junta de Extremadura e o Museo Nacional de Arte Romano de Mérida, de Espanha e pela Direcção-Geral do Património Cultural e o Museu Nacional de Arqueologia, Portugal, e contando com o apoio de várias entidades portuguesas e espanholas, a exposição estará patente no Museo Arqueológico Nacional de Espanha, em Madrid, até ao dia 16 de outubro de 2016, com entrada livre.
Aceda também a algumas reportagens já realizadas sobre esta iniciativa, pela agência noticiosa espanhola, EFE, e pelo
diário espanhol especializado em arte, Hoy es Arte.
Fontes:
Agência EFE [acedido em 11/07/2016]
Jornal ABC [acedido em 11/07/2016]
Jornal Público [acedido em 11/07/2016]
Jornal El Economista [acedido em 11/07/2016]