Um grupo de investigadores do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ) e da Universidade de Sevilha desenvolveu um modelo de inteligência artificial para a classificação das matérias-primas minerais utilizadas no fabrico de objectos arqueológicos de adorno pessoal da Península Ibérica.
Muitas investigações têm demonstrado a importância dos ornamentos pessoais no estudo dos processos de complexificação social na pré-história. No entanto, a falta de dados empíricos de qualidade sobre a imensa variedade de matérias-primas utilizadas no seu fabrico tem dificultado o desenvolvimento de modelos interpretativos fiáveis sobre as dinâmicas sociais e económicas relacionadas com o seu consumo.
O modelo foi treinado com dados composicionais e mineralógicos de milhares de contas, brincos e amuletos obtidos por técnicas de fluorescência de raios X e difracção de raios X, distribuídos por diferentes museus e centros académicos de Portugal e Espanha.
Espera-se que esta ferramenta resolva um dos principais estrangulamentos no estudo deste importante proxy: a aquisição de novos dados empíricos de qualidade para mapear a distribuição de matérias-primas minerais para o fabrico de objectos de adorno pessoal durante a pré-história. Esta informação é fundamental para a modelação das redes sociais e das dinâmicas económicas e sociais na pré-história.
O trabalho, publicado na revista PLOSONE, representa um avanço significativo na integração de técnicas informáticas no domínio da investigação arqueológica e constitui um recurso importante para o estudo da pré-história na Península Ibérica. Todos os recursos e dados são de acesso livre para utilização e reprodução gratuitas e estão comprometidos com uma abordagem de ciência aberta e uma visão colaborativa da construção do conhecimento.
A investigação contou com a participação de Daniel Sanchez-Gomez (autor principal), Carlos P. Odriozola Lloret, Ana Catarina Sousa e Victor S. Gonçalves, investigadores do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ). Este trabalho colaborativo entre as Universidades de Lisboa e Sevilha ilustra a importância da cooperação internacional na construção do conhecimento científico.