Pina Martins

Biblioteca de Estudos Humanísticos de Pina Martins | Novo Banco

 

A Biblioteca de Estudos Humanísticos de Pina Martins, propriedade do Novo Banco, encontra-se em depósito na Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL). O protocolo, assinado a 13 de setembro de 2017, entre o Novo Banco e a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, contempla a guarda e preservação deste espólio bibliográfico, bem como a sua colocação à disposição de alunos e investigadores, permitindo o seu estudo e o desenvolvimento de projetos científicos e culturais.

 

A Biblioteca de Estudos Humanísticos

Em 2008, o Banco adquire à família do Professor Doutor José Vitorino de Pina Martins (1920-2010) a sua biblioteca particular. Nas décadas de 1950-1960, iniciou a constituição de uma biblioteca com obras que fossem indispensáveis aos seus estudos sobre o Humanismo do Renascimento, designando-a Biblioteca de Estudos Humanísticos, que foi para si “uma verdadeira história de amor”. No decorrer de décadas de intenso labor académico no país e no estrangeiro, reuniu um dos mais relevantes acervos bibliográficos existentes em Portugal, conferindo-lhe um espaço de estudo, encontro de investigadores e partilha de histórias de amor pelos livros raros.

 

Os livros e a cultura humanística

O legado bibliográfico do Professor Pina Martins é reflexo do seu interesse pelos textos formulados pelos grandes espíritos do pensamento humanista, como Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Giovanni Pico della Mirandola, Angelo Poliziano, Marsílio Ficino, Erasmo de Roterdão e Thomas More. No domínio do humanismo português, de que se destacam os temas ligados aos Descobrimentos, estão presentes as obras de Luís de Camões, André de Resende, Damião de Góis, Luís António de Verney, Francisco de Sá de Miranda e Bernardim Ribeiro.

Fazem parte desta biblioteca cerca de 1100 obras de Livro Antigo das quais se destacam os 9 incunábulos, as cerca de 90 obras impressas pelo humanista Aldo Manuzio e seus sucessores, os 600 títulos impressos no século XVI, bem como outros tesouros bibliográficos pela sua raridade ou beleza da impressão e encadernação. A restante bibliografia de cerca de 8600 títulos serve de apoio ao estudo dos textos clássicos e das suas temáticas, em especial, a da História do Livro, a sua materialidade, hábitos de leitura e circulação de ideias e valores, conferindo à Biblioteca de Estudos Humanísticos um acervo de estudo e de histórias de amor pelos livros raros.

 

O Arquivo de Estudos Humanísticos

O fundo do Arquivo de Estudos Humanísticos é constituído por diversos documentos, datados entre os séculos XV e XX, relacionados com a cultura e história nacional. Destacam-se os manuscritos das cartas régias de D. Afonso V (1432-1481) e D. Manuel I (1469-1521), os inventários da Casa da Tapada mandada construir em 1540 por Francisco de Sá de Miranda (1481-1558), e ainda os fundos documentais de Francisco Marques de Sousa Viterbo (1845-1910) e Carolina Michaëlis de Vasconcelos (1851-1925).

 

José Vitorino de Pina Martins (1920-2010)

Nasce em Penalva de Alva a 18 de janeiro de 1920 tendo feito os seus estudos nas áreas de Filologia Clássica e Filologia Românica na Universidade de Coimbra entre os anos 1942 e 1947. Aprofundou o estudo das literaturas portuguesa, espanhola, francesa e italiana, tendo exercido funções de ensino da Língua e Literatura Portuguesas na Universidade de Roma (1948-1955), na Universidade de Poitiers (1955-1962) e na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1962-1972 e 1983-1994?). Em 19 de dezembro de 1974 defendeu na Universidade de Paris (La Sorbonne Nouvelle) as suas teses de doutoramento de Estado baseadas na obra do humanista italiano Giovanni Pico della Mirandola, tendo sido aprovado por unanimidade com a mais alta classificação.

Investigador constante de vários acervos bibliográficos em Portugal, Itália e França, organizou e dirigiu diversos cursos, conferências, seminários, exposições bibliográficas e publicações. De destacar a “Exposição Bibliográfica e Iconográfica de Os Lusíadas” que esteve patente na Biblioteca Nacional entre março de 1972 e junho de 1973.

Foi ainda diretor da Fundação Calouste Gulbenkian no Centro Cultural Português em Paris (1972-1983) e, regressando a Lisboa, do Serviço de Educação da mesma instituição; assumiu a presidência da Academia das Ciências de Lisboa e foi membro de diversas instituições.

 

Catálogo Impresso da Biblioteca de Estudos Humanísticos

 

Catálogo BEH - Manuscritos e Livro Antigo (1500-1800)

Catálogo BEH - Monografias [A-I]

Catálogo BEH - Monografias [J-Z] e Novas Incorporações

 

Tesouros da Biblioteca de Estudos Humanísticos

 

 
HORÁCIO, Carmina, Veneza, Aldo Manuzio, 1501

Trata-se de uma edição aldina cujo modelo tipográfico foi decisivo na difusão do livro e da leitura, recorrendo ao elegante tipo cursivo inventado por Aldo Manuzio (1452-1515) e desenhado por Francesco Griffo. O editor e impressor humanista procurava educar a Europa do seu tempo através da divulgação dos textos clássicos e da acessibilidade dos volumes manuseáveis. A qualidade da impressão da edição aldina é aqui valorizada pela bela encadernação oitocentista francesa, assinada por Charles Capé (1806-1867), com uma decoração inspirada nos elementos aldinos.

 
THOMAS MORE, Utopia, com texto introdutório de Guillaume Budé. [Paris, 1517].

Thomas More (1478-1535), uma das figuras humanistas mais fascinantes na história da cultura europeia, redigiu alguns dos textos fundamentais do Renascimento. Fiel à sua consciência cristã enfrentou serenamente a morte à qual foi condenado. Esta segunda edição da Utopia, texto basilar do pensamento ocidental, incluiu o primeiro comentário à obra por Guillaume Budé.

 
GARCILASO DE LA VEGA, Obras. [Lisboa], Manoel de Lyra, 1587

Exemplar único no mundo de uma edição das poesias de Garcilaso impressas em Lisboa, provando que o poeta castelhano, tão apreciado por Sá de Miranda, foi muito lido em Portugal nos séculos XVI e XVII.

 
LUÍS DE CAMÕES, Os Lusíadas, comentados por Manoel Correa. Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1613

Primeira edição comentada dos Lusíadas com a transcrição da mais antiga biografia de Camões escrita por Pedro de Mariz. 

 
Carta de D. Afonso V. Santarém, 21 de abril de 1462

Manuscrito sobre pergaminho de um alvará régio dirigido ao cronista Gomes Eanes de Azurara autorizando o levantamento de um códice da biblioteca palatina. Tendo sido educado por humanistas italianos, sabe-se que D. Afonso V criou uma preciosa biblioteca aberta à consulta pública.