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Área de Ciências da Linguagem
Financiamento Nacional
P2LINK - A Ligação entre a Percepção e Produção na Infância: Um estudo de aquisição da linguagem com intervenção oral-motora
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/LLT-LIN/1115/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Linguística da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Sónia Frota
Duração: 36 meses (17/01/2022 a 16/01/2025)
Financiamento: 249 240,33€
Resumo: A perceção da fala em fases iniciais desempenha um papel fundacional na aquisição da linguagem, com efeitos em cascata no desenvolvimento linguístico subsequente. Capacidades de discriminação e processamento da fala no primeiro ano de vida, assim como a progressiva sintonização para propriedades da língua nativa, guiam o processo de aquisição, influenciando a aprendizagem de categorias fonéticas, prosódicas e fonológicas, que, por seu turno, desencadeiam a aprendizagem de palavras e o processamento sintático [1, 2, 3, 4, a]. Tem crescido recentemente a investigação sobre a ligação entre perceção e produção no desenvolvimento inicial da linguagem, tendo sido encontradas influências sensóriomotoras na perceção da fala em bebés em fases pré-balbuceio. Foi mostrado, em particular, que perturbações oro-motoras induzidas experimentalmente comprometem a perceção da fala [5]. Contudo, até aqui apenas foram examinadas interações com a discriminação de fonemas, pelo que a seletividade, a generalização e o potencial impacto noutros domínios das influências sensório-motoras são ainda desconhecidos. Estão também por estudar os efeitos das perturbações oro-motoras de longa duração no desenvolvimento da perceção da fala e consequente impacto na aquisição da linguagem. Este tipo de perturbação caracteriza populações clínicas com dismorfologias oro-motoras, como a hipotonia oral, a protrusão da língua ou o palato curto. Para o tratamento destas condições na infância, por exemplo na Síndrome de Down (SD), têm sido propostas intervenções terapêuticas com placas palatinas [6, d]. Se bem que estejam demonstradas melhorias estéticas e de aspetos relevantes da morfologia oral, ainda nenhum estudo examinou se e como este tipo de intervenção e os aparelhos utilizados têm impacto no desenvolvimento da perceção e na aquisição da linguagem. O projeto P2LINK contribui para a área emergente da investigação sobre a ligação perceção-produção na aquisição da linguagem abrindo duas avenidas de investigação: (i) examina quão gerais são os efeitos sensório-motores na perceção da fala e como eles se relacionam com desenvolvimentos linguísticos subsequentes em crianças com desenvolvimento típico; e (ii) avalia como as terapêuticas de intervenção incidindo sobre dismorfologias motoras têm impacto não apenas no desenvolvimento oro-motor, mas também nas competências percetivas e na aquisição da linguagem no desenvolvimento atípico. O projeto tem cinco objetivos principais, que consubstanciam a natureza inovadora do programa de pesquisa proposto: (1) Expandir a avaliação das influências sensório-motoras na perceção da fala infantil a um contraste fonológico novo e, para além da fonologia segmental, a distinções prosódicas (perceção do acento de palavra e entoação). (2) Produzir o primeiro estudo que determinará se as crianças mexem espontaneamente a língua quando ouvem fala. (3) Medir a relação entre os desenvolvimentos linguísticos posteriores e o impacto das influências sensório-motoras na perceção de fala em fases iniciais do desenvolvimento. (4) Testar uma placa palatina com terminação externa de chupeta suscetível de uso alargado em populações clínicas para melhorar a morfologia oral, que seja validada do ponto de vista percetivo-motor como não limitando capacidades percetivas. (5) Avaliar os benefícios desse dispositivo tanto em relação à morfologia oral como ao desenvolvimento da linguagem, através de um estudo longitudinal de intervenção com crianças com SD, partindo do trabalho prévio dos membros da equipa do Lisbon Baby Lab (CLUL/FLUL) no domínio do desenvolvimento inicial da linguagem na SD e dos membros da equipa da FMDUP na área da saúde oral na SD. Utilizando um conjunto de métodos não-invasivos (fixação do olhar, eye-tracking, imagiologia com ultrassom, questionários parentais, escalas de desenvolvimento), e tirando partido de paradigmas experimentais testados em estudos anteriores, instrumentos de avaliação de linguagem desenvolvidos/adaptados para o Português Europeu (PE), e dados normativos ou de referência para crianças aprendentes de PE, quer com desenvolvimento típico, quer com SD, construídos pela mesma equipa nuclear multidisciplinar, o P2LINK fornecerá dados cruciais sobre a importância dos processos oro-motores na perceção inicial da fala e no desenvolvimento da linguagem. Os resultados do projeto terão implicações clínicas extensíveis a várias condições caracterizadas por perturbações oro-motoras (e.g. Síndromes Mobius e Pierre Robin e Paralisia Cerebral Congénita), e trarão avanços na compreensão da ligação entre perceção e produção na aquisição da linguagem típica e atípica. A combinação das competências científicas e clínicas no seio do P2LINK (que junta a linguística, a psicolinguística, a psicologia, a terapia da fala e a odontopediatria) promove a translação clínica das descobertas e produtos científicos, perspetivando melhor saúde e educação numa sociedade inclusiva.
Área de Filosofia
Financiamento Nacional
CWA6 - Tradução Anotada das Obras Completas de Aristóteles (Sexta Fase)
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/FER-FIL/0305/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: António Pedro Mesquita
Duração: 36 meses (17/01/2021 a 16/01/2025)
Financiamento: 182 480,70€
Resumo: Este projeto visa promover a tradução e consequente publicação da totalidade da coleção aristotélica, pela qual se entende: o conjunto das obras incluídas na edição Bekker, acrescido da Constituição dos Atenienses; os fragmentos atribuídos a obras perdidas de Aristóteles; e as obras apócrifas que circularam em época tardia sob o nome de Aristóteles, como, por exemplo, o Livro das Causas ou o Segredo dos Segredos. As obras completas que daqui resultam são as únicas, a nível internacional, a incluir estas últimas. Ao empreender a tradução desta coleção, este projeto torna-se, portanto, o primeiro e, até o momento, o único em todo o mundo a abranger o que pode ser considerada a integralidade do legado aristotélico. A edição, feita em colaboração com a INCM, estende-se por 43 tomos (ver Anexo 1) e congrega praticamente todos os investigadores nacionais nas áreas da filosofia antiga, estudos clássicos e estudos árabes e islâmicos, bem como diversos especialistas estrangeiros, provenientes de diferentes universidades, num total de 41 colaboradores (ver Anexo 2). Saíram já por este projeto 17 tomos (ver Anexo 1). No prelo, encontra-se ainda o seguinte: IX.5: Sobre Melisso, Xenófanes e Górgias. Virtudes e Vícios. Retórica a Alexandre. Em fase de revisão, encontram-se as seguintes obras: I.4: Segundos Analíticos; II.1: Física. Começadas em fases anteriores do projeto, por vezes sob responsabilidade de outros colaboradores, serão completadas nesta fase as seguintes traduções: I.3: Primeiros Analíticos; I.6: Refutações Sofísticas; II.2: Sobre o Céu; III.2: Pequenos Tratados de História Natural; IV.4: Movimento dos Animais. Progressão dos Animais; VI.1: Ética a Nicómaco. A iniciar a sua preparação com CWA-6, encontram-se as seguintes obras: V.2: Metafísica VII-IX; VI.2: Grande Moral; VII.1: Política; VIII.2: Poética; XI.1-2: Fragmentos dos Tratados, Monografias, Recolhas e Escritos Privados; XII.2: Livro das Causas. Livro da Maçã. A presente candidatura corresponde à penúltima fase do projeto, após o termo da qual será lançada uma última, para a preparação dos 7 derradeiros volumes (ver Anexo 3). Nos termos de um protocolo estabelecido entre o CFUL, a INCM e a editora brasileira Martins Fontes, as traduções publicadas em Portugal começaram a sair também no Brasil, desde 2011, em edição preparada por esta, tendo sido publicados 5 tomos. Por dificuldades económicas da editora brasileira, esta parceria foi interrompida, tendo sido estabelecido um novo protocolo, em idênticos moldes, com a Fundação Editora Unesp, da Universidade Estadual Paulista, que assegurará a partir de aqui a publicação das obras no Brasil. O projeto faculta ainda um contacto interativo com os interessados através do portal www.obrasdearistoteles.net. Nele encontram-se, em versões portuguesa e inglesa, diversos elementos de informação, além do texto completo de todos os volumes publicados, disponibilizado condicionadamente com a entrada em circulação da versão em papel. Com CWA-6, e pela primeira vez desde o início do projeto, começar-se-á a preparar, além de traduções portuguesas de obras do corpus aristotélico, edições críticas de alguns dos seus originais, em particular dos seguintes dois: do texto grego do De lineis insecabilibus, tratado pseudo-aristotélico incluído num dos tomos publicados na quinta fase (IX.2); e do texto árabe do De pomo, diálogo apócrifo tardio a incluir num dos tomos a publicar nesta fase (XII.2), que até agora não dispõe de nenhuma edição crítica. Ambas as edições serão acompanhadas de estudo introdutório, tradução inglesa e notas e, quando concluídas, serão propostas para publicação a uma editora internacional de referência. Ao mesmo tempo, como nas fases anteriores do projeto, serão organizados encontros científicos internacionais, cujos resultados darão origem a obras colectivas a publicar em editoras internacionais de referência, e o projeto continuará a empenhar-se de diversos modos na promoção dos estudos avançados sobre Aristóteles e a tradição aristotélica. Com a concretização deste projeto, pretende-se: 1) alargar substantivamente o conhecimento do público lusófono de textos fundamentais da história da filosofia ocidental; 2) permitir o acesso e favorecer o contacto direto dos estudantes universitários da graduação de língua portuguesa com os principais textos do corpus aristotélico; 3) promover a investigação sobre o pensamento filosófico clássico nas Universidades lusófonas; 4) promover os estudos avançados sobre Aristóteles e a tradição aristotélica em Portugal e outros países de língua portuguesa; 5) estimular, reforçar e consolidar o intercâmbio científico e académico entre Portugal e o Brasil, e, em geral, com a América Latina e o espaço de influência das línguas ibéricas; 6) contribuir para a internacionalização da investigação científica nacional na área da filosofia antiga. Estes desideratos já vêm sendo conseguidos desde o lançamento da primeira fase do projeto, em 2004.
OGSR - Novas perspectivas sobre os objetos e fundamentos das regras estruturais
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: 2022.03194.PTDC
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Bogdan Dicher
Duração: 18 meses (01/03/2023 a 31/08/2024)
Financiamento: 49 940,00€
Resumo: Este projeto diz respeito à interpretação do papel das regras estruturais na lógica. A lógica está preocupada com o quê se segue do quê—isto é, no seu cerne está a análise da consequência lógica. Mostrar que uma conclusão é uma consequência lógica de algumas premissas normalmente requer dois tipos distintos de regras. Ou seja, requer regras operacionais, que codificam o comportamento das operações lógicas (negação, conjunção, quantificação universal etc.). Mas também requer regras estruturais, que governam, em vez disso, as maneiras pelas quais as premissas e conclusões de um argumento são estruturadas, independentemente das operações lógicas que aparecem nelas (um exemplo é a regra estrutural da Comutatividade, que afirma, grosso modo, que a ordem das premissas não importa). Com base nessa distinção, é possível caracterizar uniformemente uma multiplicidade de lógicas não-clássicas que têm em comum a característica de rejeitar algumas regras estruturais da lógica clássica (mas que podem concordar com a lógica clássica no que diz respeito às regras operacionais básicas). Essas lógicas são hoje conhecidas como "lógicas subestruturais": lógicas mais fracas que a lógica clássica na medida em que rejeitam pelo menos uma de suas regras estruturais.
Agora, tradicionalmente, as regras estruturais são interpretadas como codificando as propriedades fundamentais da relação de consequência lógica. Contrariamente a esta interpretação tradicional, o projeto explora duas hipóteses segundo as quais as regras estruturais são entendidas de forma radicalmente diferente, seja em relação aos seus objetos, seja em relação aos seus fundamentos.
Segundo uma hipótese a ser explorada, as regras estruturais codificam certas propriedades dos materiais básicos do raciocínio: frases, proposições, instâncias de informação, afirmações/negações etc. Por exemplo, nesta hipótese, a regra estrutural da Contração (que afirma, grosso modo, que o número de ocorrências da mesma premissa não importa) codifica a propriedade de que os materiais básicos do raciocínio que se estão a empregar não admitem diferentes instâncias do mesmo tipo. Tal propriedade parece efetivamente ser válida para proposições, de modo que a regra estrutural de Contração seria aceitável ao raciocinar com proposições (mas não, digamos, ao raciocinar com instâncias de informação). Além disso, nesta hipótese, os materiais básicos do raciocínio sempre ocorrem já inseridos em redes de relações inferenciais: enquanto as regras estruturais codificam propriedades pertencentes à configuração dessas relações dentro de uma única rede, a própria consequência lógica é uma relação entre diferentes redes, e por isso opera a um nível diferente do das regras estruturais.
Segundo a outra hipótese a ser explorada, as regras estruturais codificam propriedades da relação de consequência lógica, mas tais propriedades já não são fundamentais e são derivadas das propriedades de certas operações lógicas definíveis no quadro da lógica em questão. Subjacente a essa hipótese está a ideia de que os principais componentes estruturais da consequência lógica (combinação de premissas, combinação de conclusões e implicação) consistem em certos tipos de operações lógicas (conjunção, disjunção e condicional, respectivamente). Por exemplo, nesta hipótese, a combinação de premissas consiste em um certo tipo de conjunção, e assim a regra estrutural de Contração é derivada da regra operacional de Idempotência para a conjunção (segundo a qual A implica a conjunção A&A).
As lógicas subestruturais têm tido importantes aplicações filosóficas em diversas áreas (pluralismo lógico, rivalidade entre lógicas, paradoxos etc.). Nessas aplicações, as regras estruturais são tipicamente entendidas do ponto de vista da interpretação tradicional, tanto no sentido de codificar propriedades da relação de consequência lógica quanto no sentido de tais propriedades serem mais fundamentais em relação às operações lógicas. Em virtude de desafiar essa interpretação tradicional, o projeto tem, portanto, o potencial de provocar um debate fértil sobre os fundamentos conceituais das lógicas subestruturais e as suas aplicações filosóficas.
Financiamento Internacional
KANTISA - Kant in South America
Entidade Financiadora: European Research Executive Agency
Referência: 777786
Papel da FLUL: Instituição Participante
Unidade de Investigação: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Investigador Representante da FLUL: Paulo de Jesus
Instituição Proponente: Universita Degli Studi Di Catania
Investigador Responsável: Luigi Caranti
Instituições Participantes: Martin-Luther-Universitaet Halle-Wittenberg; London School of Economics and Political Science; Universidad de Buenos Aires; Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas y Tecnicas; Universidade Federal de Santa Catarina; Universidade Federal de Minas Gerais
Duração: 80 meses (01/01/2018 a 31/08/2024)
Financiamento: 544 500,00€ (Global), 49 500,00€ (FLUL)
Resumo: A consortium of 4 EU Universities and 4 Southern American (SA) academic institutions analyze critically the development of Kant scholarship in Southern America in the last 15 years, following the booming of Kant studies in that continent over that period and the exponential increase of its quality. Top SA Kant scholars are enrolled in the project that promises to enlarge greatly the competence of EU colleagues and in turn profit from their feedback. Early stage researchers from both ends also take part to the exchange. The consortium builds on a web of established relations of most of the participants, at the personal and institutional level.
PLEXUS - Philosophical, Logical, and Experimental routes to substructurality
Entidade Financiadora: European Research Executive Agency
Referência: 101086295
Papel da FLUL: Instituição Participante
Unidade de Investigação: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Investigador Representante da FLUL: Bogdan Dicher
Instituição Proponente: Universidad de Navarra
Investigador Responsável: Pablo Cobreros
Instituições Participantes: Università degli Studi di Torino; École Normale Superieure; Universiteit Van Amsterdam; Universita degli Studi di Cagliari; Consejo Nacional De Investigaciones Cientificas y Tecnicas; Monash University; The City University of New York Graduate Center Cuny; King's College London
Duração: 48 meses (01/01/2023 a 31/12/2026)
Financiamento: 556 600,00€ (Global), 46 000,00€ (FLUL)
Resumo: There is a large family of non-classical logics that fall under the heading of substructurality. Among the logics in the substructural family, the recent philosophical literature pays particular attention to what can be termed “radically substructural logics”: nontransitive and non-reflexive reflexive logics as well as variants and hybrids of these obtained by metainferential ascent. The overall goal of PLEXUS is to advance the knowledge of radical substructural logics and deepen our understanding of the broader phenomenon of substructurality, by coordinating the efforts of researchers across the globe, across generations, and across traditions. We see our project characterised by the following concepts: integration, cross-fertilization and knowledge sharing.
This general objective is articulated in three objectives:
1. Philosophical Foundations: investigate the main philosophical challenges raised by radically substructural logics.
2. Logic and applications: investigate proof-theoretic and model theoretic characterizations of radically substructural logics and their logico-linguistic applications.
3. The Metainferences Inventory and Metainferences Prover: develop a tool to measure naïve reasoners' preferences on metainferences and implement an automatic metainferences prover.
SUBSTANTIALITY - On the Substantiality of Aristotelian Substances
Entidade Financiadora: European Research Executive Agency
Referência: 101090320
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Pedro Mesquita
Duração: 24 meses (01/11/2022 a 30/10/2024)
Financiamento: 156 778,56€
Resumo: Substances are the fundamental entities in Aristotle's ontology. Sensible substances, paradigmatically individual biological organism, are constituted by a form or organisational structure, and some matter. There are in particular two features characteristic of sensible substances: being separate, i.e. being independent in some sense, and being a this-something (τόδε τι), i.e. being an individual or something definite in some sense. What these two features exactly amount to is clearly crucial for an understanding of Aristotle's conception of substance, however, it is unfortunately also notoriously obscure and highly controversial in the literature. The purpose of this project is to clarify these two features, and thereby to advance the literature on the notion of substance and to provide new insights for important debates in contemporary metaphysics. Central in my project is a novel methodology based on Myles Burnyeat's influential work. This 'two-level methodology' reflects Aristotle's own methodology to distinguish two levels of discourse, one where a subject-matter is discussed from a more abstract perspective and one where it is discussed from a more comprehensive, causal perspective. This methodology provides the means to interpret the different passages in Aristotle's works in a context-sensitive way that allows to relativise the scope of certain assertions made there. Employing this methodology allows me to resolve a central dilemma about the notion of separation consisting in the fact that there is prima facie good reason to assume three jointly incompatible assumptions: 1) forms are substances, 2) being a substance implies being separate, and 3) forms are not separate. This method also provides the means to deal with prima facie problematic consequences of a straight forward, but largely rejected interpretation of separation, and to illuminate a largely neglected, but important aspect of being a this-something, related to final causality.
Área de História
Financiamento Nacional
ARTIFEX: ARS CARTOGRAPHICA
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: EXPL/ART-HIS/0785/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Instituto de História da Arte
Investigador Responsável: Vasco Medeiros
Duração: 18 meses (17/01/2021 a 16/07/2023)
Financiamento: 49 998,34€
Resumo: No decorrer dos séculos XV e XVI, actividades como a cartografia, o desenho e a pintura não possuíam qualquer distinção estatutária entre si. Eram executadas por artífices queintegravam um vasto grupo designado por «ofícios mecânicos» e que comungava dos atributos habitualmente conferidos ao Artifex. Por Artifex entendia-se um especialista emqualquer arte, um artífice, um artesão, um artista, um executante ou criador, independentemente da natureza científica ou artística da sua actividade. Não constitui novidade aexistência, no decorrer dos séculos XV e XVI, de um elevado espirito de descoberta e cooperação entre actividades que faziam uso comum do desenho, da matemática e dageometria. Arte e ciência partilharam, de facto, métodos e disciplinas comuns em prol de um só objectivo – conhecer, compreender e representar o mundo. Esta problemática temconstituído uma preocupação recorrente tanto do campo da história como da filosofia da ciência. Porém, e dada a natureza especifica deste campos, as conclusões obtidas nãoreflectem nenhumas das preocupações exclusivas e intrínsecas à historiografia da arte. As características singulares do panorama artístico e científico português no decorrer dosséculos XV e XVI, assim como, a sua ligação intrínseca às actividades de navegação, impõem uma renovação desta investigação de forma a colmatar múltiplas questões ainda emaberto: Qual o teor das relações detidas entre cartógrafos e pintores? Como é que se processaram as trocas epistémicas entre estas duas actividades? Qual o grau de interacção noque concerne aos fundamentos científicos da perspectiva e da geometria aplicada à pintura e à cartografia? Haveria participação de pintores na decoração dos mapas, cartas demarear e atlas? De que forma essa colaboração terá influenciado as representações paisagísticas do vasto espaço exo-europeu? Qual o grau de contaminação imagética dos modeloseuropeus nesse processo? Existiram pintores a bordo das naus? Se sim, qual a sua função? A crescente cientificação da arte corresponderá à presença da matemática, da geometriae da cartografia no quotidiano da corte? Essas manifestações serão contemporâneas ou correspondem a ciclos políticos distintos? E por último, a questão magna que se impõemforçosamente: será possível desenvolver uma metodologia adequada que permita responder globalmente a todas estas questões? A existência de inúmeras fontes documentais detipologia diversa permitem responder afirmativamente a esta ultima questão. Existem, de facto, três tipologias distintas de elementos, que pela sua natureza heterogénea, nãoforam até há data alvo de uma análise de conjunto: listas exaustivas de inventários de artífices dos séculos XV e XVI; um vasto acervo pictórico produzido entre a segunda metadedo século XIV e finais do século XV; um vasto acervo cartográfico dos séculos XV e XVI. É certo que esta temática tem sido recorrentemente abordada tanto em congressos como empublicações, demonstrando a inequívoca centralidade do tema. No entanto, o problema destas abordagens reside no facto de se limitarem ao estudo de casos individualizados,estudos esses que não conduzem a uma visão de conjunto do fenómeno, nem viabilizam a percepção dos fluxos de manifestação das diversas actividades por regiões e períodoscronológicos distintos. O projecto Artifex: Ars Cartographica propõe-se assim colmatar esta lacuna através da criação de uma base de dados multidisciplinar que seja capaz deconvergir o vasto elenco documental de cartógrafos, astrónomos, mestres de cartas de marear, matemáticos, debuxadores e pintores activos no reino durante os séculos XIV, XV eXVI; com o legado imagético, pictórico e/ou cartográfico, atribuível a cada um deles. A informação daí decorrente permitirá uma visão global da questão em dois camposamplamente promissores: a) tratamento estatístico dos dados por grupos de artífices, períodos de actividade e correspondência global à diversas estratégias implementadas noreino; b) organização sistemática e tipológica dos elementos imagéticos obtidos nas categorias de pintura, desenho e cartografia - e nas subcategorias de representação humana,paisagística, animal e vegetal. Este processo facilitará a confrontação em larga escala de tipologias específicas de representações, que se crê reveladoras de parcerias existentesentre pintores, cartógrafos e mestres de cartas de marear. Este projecto oferecerá assim, a possibilidade inédita de determinar e compreender os processos de cooperação entrecartógrafos e pintores, revelando Trading Zones ocultas e essenciais tanto para a caracterização dos processos de transferências epistémicas, como para os modelos derepresentação visual em voga nos séculos XV e XVI.
B-ROMAN - Exploração e consumo de recursos biológicos no ocidente Ibérico em Época Romana
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/HAR-ARQ/4909/2020
Papel da FLUL: Instituição Participante
Unidade de Investigação: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Investigador Representante da FLUL: Cleia Detry
Instituição Proponente: ICETA - Instituto de Ciências, Tecnologias e Agroambiente da Universidade do Porto
Investigador Responsável: João Pedro Vicente Tereso
Duração: 36 meses (01/03/2022 a 29/02/2024)
Financiamento: 219 938,44€ (Global), 55 315,50€ (FLUL)
Resumo: O projeto B-Roman tem como objetivo compreender de que forma os recursos biológicos foram explorados e integrados no modelo económico e de rentabilização territorial implementado na Lusitânia Romana, no ocidente ibérico. Propomo-nos obter novos dados sobre a exploração de plantas e animais nesta região, caracterizar o seu abastecimento às cidades, perceber como estes diferiram ao longo do tempo e espaço, e qual o seu papel nos processos de aculturação das comunidades humanas e alteração de paisagens na província Romana mais a ocidente do Império. Estudar-se-ão vestígios de plantas e animais provenientes de um vasto conjunto de sítios arqueológicos da Lusitânia, combinando abordagens clássicas com novos métodos de análises de isótopos, em estreita articulação com os contextos e registos arqueológicos. Para tal, foi reunida uma equipa multidisciplinar e internacional, com conhecimentos aprofundados sobre Arqueologia Ambiental e a história da ocupação Romana nas províncias ibéricas. A expansão do Império Romano e a implementação de novos modelos socioeconómicos nos territórios ocupados foram processos complexos e variaram de acordo com as características das populações indígenas e da forma como a sua conquista teve lugar ([FaCaAl16] [Al08]). Não obstante a existência de um fundo comum, implementado ao longo dos anos pela administração Romana, a realidade social provincial era efetivamente muito diversa e heterogénea, particularmente nos territórios mais distantes de Roma, como a Lusitânia ([FaCaAl16] [Al08]). Um novo modelo de gestão e exploração deste território, alicerçado em novos centros urbanos e potenciado pela criação uma vasta rede de comunicação, teve um papel fundamental no processo de aculturação das comunidades indígenas. De forma a lidar com as necessidades decorrentes do aumento populacional destas cidades e do incremento da atividade comercial, surgiu um sistema de produção e consumo à escala imperial que coexistia com economias de pequena dimensão, baseadas na autossuficiência ou no comércio local, materializadas na criação de uma rede de villae e pequenas unidades rurais ([FaCaAl16] [Al08]). Esta mudança nos sistemas produtivos, estimulada por condições climáticas favoráveis e diversos progressos tecnológicos, levou ao florescimento da agricultura e da produção animal durante o período Romano que, por sua vez, instigaram as profundas alterações na paisagem que se registaram neste período ([FaCaAl16] [Al08] [TeRaAl13]). Muito deste debate tem-se tradicionalmente cingido ao estudo de materiais e estruturas arqueológicas, coadjuvados pelas fontes clássicas. Não obstante estes constituírem um importante ponto de partida, as mais recentes abordagens metodológicas e teóricas preconizadas pela Arqueobotânica e Zooarqueologia proporcionam informações cruciais, impossíveis de obter por outros meios, e necessárias para complementar e validar outros dados históricos e arqueológicos. Porém, os estudos arqueobotânicos realizados nesta região são escassos e distribuídos de forma desigual. Análises carpológicas são quase inexistentes e as antracológicas são insuficientes, não permitindo compreender sistemas agrícolas ou modelos de obtenção e utilização da madeira como combustível e material de construção. Também os estudos de isótopos são inexistentes na região, não obstante fornecerem informações relevantes para o conhecimento das condições de crescimento das plantas e para a deteção de diferenças (sociais ou outras) no acesso aos melhores solos [MoTeGr19]. A investigação zooarqueológica, por oposição, está bastante mais desenvolvida nesta área de estudo, graças aos trabalhos da co-PI do projecto B-Roman. Estes centraram-se na identificação das principais espécies consumidas, na clarificação de cronologias e contextos sociais de introdução de novas espécies [DeCaMo18] e no melhoramento animal, usando dados biométricos e de ADN antigo (Detry in prep.). No entanto, existem lacunas no que respeita aos dados de isótopos, que permitiriam obter dados relativos à mobilidade e alimentação animal, particularmente relevantes para compreender o abastecimento dos centros urbanos. No seu final, o projeto B-Roman, através de uma equipa experiente e multidisciplinar, espera contribuir de forma decisiva para compreender a exploração e o uso dos recursos biológicos neste espaço e cronologia, integrando-os na realidade histórico-arqueológica da região, e onde as cidades detinham particular importância. Considerando a abrangência dos temas abordados neste projeto – incluindo a agricultura, silvicultura, criação de gado, gestão territorial, comércio, assim como outros aspetos do dia-a-dia das populações – a metodologia preconizada por este projeto permitirá também melhor compreender a implementação de novos modelos socioeconómicos e culturais de índole romana no sudoeste ibérico, integrando-o na história económica, social e ambiental do Império Romano.
ECOFREEDOM - Ecologias da Liberdade: Materialidades da Escravidão e Pós-emancipação no Mundo Atlântico
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/HAR-ARQ/4540/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Rui Coelho
Duração: 36 meses (15/01/2022 a 14/01/2025)
Financiamento: 249 928,01€
Resumo: Este projecto centra-se nas transformações sociais e ambientais que tiveram lugar durante e depois da abolição da escravidão entre 1720-1950 em duas regiões do mundo Atlântico: Portugal, no sudoeste europeu e Guiné-Bissau, na África ocidental. A escravidão foi abolida nos territórios europeus de Portugal em 1761, e na Guiné-Bissau em 1869. No entanto, a experiência da escravidão continuou depois da sua abolição formal. No caso de Portugal, depois da década de 1760, camponeses sem-terra continuaram a ser sujeitos a formas informais de servidão até ao século XX. Na Guiné-Bissau, a escravidão foi substituída por um regime de trabalhos forçados que subsistiu até à década de 1960. Este projeto inovador examinará as materialidades de regiões em que se experimentaram a escravidão e as consequências da emancipação, e localizará as fronteiras entre as ecologias da escravidão e da liberdade. Neste projeto perguntamos: 1) Como se materializaram na vida quotidiana as mudanças entre uma sociedade com escravidão e uma sociedade sem escravidão? 2) Que transformações ambientais ocorreram na transição entre esses dois tipos de sociedade? 3) Quais foram as circunstâncias materiais da liberdade, e o que as torna diferentes das da escravidão? Hipotetizamos que: 1) Uma sociedade baseada na escravidão e uma sociedade sem escravidão tiveram diferentes ecologias. De uma forma geral, as suas ecologias corresponderam a relações específicas entre humanos, animais, plantas, e a paisagem. As diferenças entre as ecologias indexaram diferentes tipos de práticas agrícolas e de gestão do trabalho, assim como distintos padrões de ocupação do território. É possível que numa sociedade baseada na escravidão a agricultura dependesse mais de culturas comerciais, ou em culturas focadas no tráfico de escravos. É possível que uma sociedade livre tivesse uma maior diversidade de produtos agrícola, assim como acesso a um leque mais variado de alimentos; 2) A transição entre uma sociedade com escravidão e uma sociedade sem escravidão teve impacto no envolvimento sensorial das pessoas com o mundo. Este impacto pode ser avaliado em padrões de consumo de cultura material, e na organização interna de ambientes domésticos. É possível que tenha existido uma procura maior de bens pessoais depois da abolição da escravidão, quando as comunidades entraram em economias baseadas em salários e começaram a lidar com dinheiro de forma mais frequente. De forma a responder às questões de pesquisa e verificar as hipóteses, o projeto será implementado através de seis disciplinas diferentes: história ambiental, arqueologia histórica, arqueobotânica, palinologia, arqueozoologia e geoarqueologia. Cada uma destas disciplinas terá o seu leque específico de questões e será conduzida por especialistas. Os especialistas focar-se-ão em duas regiões distintas: Alentejo, no sul de Portugal e Cacheu, na Guiné-Bissau. Em cada uma destas regiões escolheremos dois sítios arqueológicos para estudo arqueológico: um edifício residencial para escavação, e um sítio na margem de um rio para sondagens geoarqueológicas. A componente científica do projeto culminará com uma oficina que terá por objetivo o desenvolvimento de colaborações entre arqueocientistas, historiadores e arqueólogos históricos que trabalham na relação entre escravidão, trabalho forçado e transformações ambientais no mundo moderno. Este projeto é inspirado e desenhado de acordo com a Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (Objetivos 8, 10, 15, 16). Procuraremos visibilizar as raízes históricas do trabalho forçado e os seus legados contemporâneos. De forma a torná-lo possível, iniciaremos um processo de colaboração com comunidades locais e partes interessadas com uma perspetiva de longa duração, as quais serão consultadas durante todo o projeto e envolvidas na planificação de um projeto educacional focado na consciencialização internacional para os problemas do racismo e os seus legados. A análise gerada por este projeto deverá informar instituições estatais nos seus esforços para entender, prevenir e combater formas contemporâneas de trabalho forçado em Portugal, na Guiné-Bissau e mais além.
Egypopcult - "Ich mache mir die (ägyptische) Welt wie sie mir gefällt". Conceitos e ideias atuais em Egiptologia e cultura popular
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: 2022.07095.PTDC
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de História da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Abraham Fernández Pichel
Instituições de Colaboração: University of Birmingham; Polish Academy of Sciences; Universidad de Huelva; Montana State University; Brown University; University of Leeds; Université Charles-de-Gaulle Lille 3
Duração: 12 meses (01/03/2023 a 29/02/2024)
Financiamento: 34 089,65€
Resumo: Podem as séries de televisão, cinema, bandas desenhadas, publicidade, ou a literatura de ficção tornar-se fontes de estudo para a investigação académica nas Humanidades? Esta questão aplica-se, neste projecto, ao caso específico do Antigo Egipto, cujas recriações na chamada cultura popular são abundantes.
O tema suscita discussão, e só nas últimas três décadas, mudanças significativas emergiram contribuindo para a promoção dos estudos de receção cultural no campo da Egiptologia. O objectivo deste estudo exploratório é o de promover estes estudos através da criação de um espaço para o debate científico multidisciplinar. Esta iniciativa colaborativa concentrar-se-á na criação de uma base de dados e de uma rede científica, ambas até hoje sem paralelo, as quais serão usadas como recursos para investigação futura tanto a nível nacional como internacional. O projecto procura também proporcionar novas abordagens de estudo às múltiplas recriações do antigo Egipto na cultura popular contemporânea.
Ao longo dos 12 meses de duração do projecto, os membros da equipa serão responsáveis por integrar informação sobre obras da cultura popular que refiram de forma explícita ou implícita, à civilização egípcia.
A plataforma IT permitirá a troca entre os organizadores e utilizadores de modo a fornecer a estrutura com novos conteúdos e comentários. Simultaneamente, a análise transversal destes e de outros recursos documentais e visuais serão essenciais para organizar cursos de formação, conferências, e para publicar uma monografia colectiva.
O plano do projecto e as suas metodologias baseiam-se na interdisciplinaridade inerente às Humanidades Digitais (Thaller 2012; Granjon, Magis 2016), as quais se irão desenvolver em duas frentes: 1) a criação de uma infraestrutura para o processamento de informação, e 2) a disseminação digital de resultados numa plataforma online de acesso público, a publicação de um livro em acesso livre e a organização e participação noutras actividades de disseminação, tais como curso de formação de carácter híbrido.
É este projecto interessante e necessário para a actual investigação em egiptologia? O estudo da cultura popular e suas implicações para as Humanidades, e a Egiptologia em particular, tem um grande potencial devido à escassa atenção que o tema tem recebido no plano académico.
Em primeiro lugar, a investigação académica tem sido dominada por um tratamento de motivos isolados e significativos da civilização egípcia, os quais incidem sobretudo em múmias, nas pirâmides, na figura de Cleópatra e em alguns objectos provenientes da tumba de Tutankhamon (Brier 2013; Taterka 2016). Na análise destes motivos, a literatura é praticamente o único recurso usado, sobretudo a literatura anglo-saxónica da viragem do século XIX para o século XX, ao passo que produções mais recentes e media como bandas de desenhadas, internet, ou publicidade são ignorados.
Em segundo lugar, muitas das fontes referem-se exclusivamente à recepção do Egipto Antigo na civilização ocidental, ignorando outras esferas culturais (Cooperson 2010). No mundo globalizado de hoje, um dos maiores contributos deste projecto é o de identificar outras formas de recepção do Egipto na cultura popular.
Outro elemento de interesse deste projecto consiste no facto de que a cultura popular proporcionar uma visão do passado egípcio a partir da actualidade, não tanto a partir da sua história, mas sim enquanto manifestações culturais. Deste modo, este estudo envolve a subjectividade do autor de cada trabalho e o seu contexto histórico. A actualidade desempenha, portanto, uma influência decisiva na elaboração de novas imagens do Egipto e do Egípcio na cultura popular, fazendo convergir visões tradicionais e a sua recriação no plano ideológico, político e religioso a partir do momento presente.
Deste modo, os significados atribuídos aos motivos ou narrativas egipcizantes na cultura popular recente não são de forma alguma estáticos, nem mesmo no caso dos mais comuns, tais como as pirâmides ou múmias, já previamente mencionados (Fernández Pichel 2022/4).
Deste modo, procuraremos usar este enorme recurso documental para reflectir no mundo actual e nos seus desafios: o papel da mulher, esquemas pós-coloniais de domínio, transhumanismo…
Para desenvolver esta pesquisa a equipa é multidisciplinar, constituída por especialistas em Egiptologia, mas também em literatura, história da arte e comunicação audiovisual, oriundos de universidades americanas e europeias de reconhecido prestígio, definindo este projecto com uma vocação verdadeiramente internacional. Esta também é uma equipa transgeracional, com experiência de investigação em diferentes tópicos de pesquisa e já habituada a trabalhar em conjunto – uma garantia de interoperabilidade e boa comunicação. O plano de trabalho inclui a contratação de um bolseiro de investigação que receberá orientação científica ancorada ao trabalho de disseminação das actividades do projecto nas redes sociais e científicas.
FRONTOWN - Forais Medievais Portugueses: Uma perspetiva histórica e linguística na era digital
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/HAR-HIS/3024/2020
Papel da FLUL: Instituição Participante
Unidade de Investigação: Centro de História da Universidade de Lisboa
Investigador Representante da FLUL: Ana Filipa Roldão
Instituição Proponente: Universidade Nova de Lisboa
Investigador Responsável: Adelaide Costa
Duração: 36 meses (20/03/2021 a 19/03/2024)
Financiamento: 238 158,56€ (Global), 17 043,75€ (FLUL)
Resumo: Este projeto desenvolve-se em 2 abordagens confluentes. A 1ª visa identificar o papel desempenhado por pequenas vilas na articulação de um território de fronteira entre Portugal e Castela, e na relação com espaços mais distantes, explorando todos os vínculos e fluxos que entre esses povoados se estabeleçam, viabilizados ou obstruídos pelas condições geográficas, materiais, políticas ou mentais. Ainda que os enquadramentos geográfico e cronológico não sejam a priori rigorosos, o 1º centra-se no Alto Alentejo português e na Alta Extremadura leonesa, e o 2ª prolonga-se dos séculos XIII ao XVI. A 2ª perspetiva de análise fixa-se no estudo e reconstituição da evolução do espaço urbano de duas destas vilas, situadas em cada um dos lados da fronteira e escolhidas após sondagem às potencialidades documentais a ao cumprimento similar de critérios funcionais e de impacto na zona: Castelo de Vide e Cáceres. As 2 escalas de observação – macro e micro - mobilizam uma equipa ibérica multidisciplinar composta por historiadores, arqueólogos, historiadores de arte e do urbanismo e especialistas em ciências da computação. O núcleo central da equipa trabalha de forma consistente há anos em projetos exploratórios sobre pequenas vilas, experiência que se revela essencial para a afinação metodológica e a maturação concetual aplicada nesta proposta. Os elementos agora incorporados carreiam know how em áreas historiográficas específicas e em novos domínios do conhecimento. O facto de o território observado corresponder a uma zona confinante entre dois reinos, estruturada por uma fronteira política estável, gera condições para elaborar um estudo comparativo entre as pequenas vilas que aí se localizam. Defendemos que esta é uma via para ultrapassar os constrangimentos que votam ao fracasso os estudos comparados, mercê das incompatibilidades documentais, cronológicas e de concetualização das realidades a cotejar. Face a este quadro de base, a perspetiva de abordagem a desenvolver é inovadora pelas premissas em que assenta e pela metodologia utilizada. Concede-se o protagonismo a um conjunto de pequenas vilas, rejeitando assumi-las, a priori, como elos menores de uma rede de centralidades polarizadas pelos grandes centros urbanos. Estudos conduzidos para outras regiões da Europa apontam o estabelecimento de fluxos e vínculos entre povoados de dimensões reduzidas, que não são subsidiários dos liderados por cidades e vilas de primeira linha, mas paralelos, atingindo mesmo grandes distâncias (Cf. Rev. Lit.). É nossa intenção testar estas hipóteses explicativas, aplicando variáveis que adaptam o método preconizado por Jean-Luc Fray, consultor deste projeto (Cf. Ver. Lit.). Para visualizar e potenciar os resultados da metodologia, utiliza-se uma base de dados georreferenciada já existente (Mercator -e), incorporando novos layers de acordo com variáveis de conectividade exploradas. A 2ª vertente da abordagem - a micro - articula-se com a modelação e animação em 3D, com o objetivo de observar como os fluxos e os vínculos se refletem no espaço urbano destas duas vilas: reconstituindo as áreas de mercado, de trocas, de convivialidade, de decisão, de representação, bem como as vias e os terreiros e a sua relação com o tecido residencial. O desafio desta 2ª via de análise é o de produzir outputs com impacto na comunidade científica, nos decisores e na sociedade. Assim, as reconstituições e animações 3D: (i) permitem aos investigadores levantar novos questionamentos; (ii) informam os responsáveis pelas intervenções urbanísticas nos centros históricos; e (iii) constituem elementos decisivos para alavancar as indústrias criativas e o turismo. Mas estas representações, destinadas a preservar a herança cultural das vilas e vocacionadas, antes de mais, para os seus habitantes, aplicam-se, também, a contextos educativos. A vinculação à sociedade encontra-se na essência deste projeto, dada a larga trajetória de trabalho conjunto entre as universidades envolvidas e vilas da região. A confiança depositada na eficaz construção, gestão e utilização dos resultados da pesquisa traduz-se no apoio a esta proposta por parte desses municípios. A publicitação de outputs concretiza-se num portal com ligação a infraestruturas de disseminação, como a Casa de Velázquez que irá publicar resultados do projeto em acesso aberto, promover a formação avançada conjunta e cimentar a rede internacional de investigadores. Apontam-se impactos relevantes do projeto em dois níveis: (1) científico - a proposta é inovadora pela problemática a que pretende dar resposta, pela identificação de um território compósito entre dois reinos, pela equipa ibérica multidisciplinar que congrega e pelos outputs previstos; (2) societal – a matriz do projeto vincula-se à sociedade, a uma região pouco povoada e envelhecida, mas onde os municípios apostam na revitalização e na visibilidade cultural e cientificamente sustentada. Este é o nosso contributo.
IberAmber - A Âmbar local e redes de troca na pré-história da Península Ibérica: caracterização das fontes portuguesas como um caso de estudo global
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: 2022.09207.PTDC
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Carlos Odriozola
Instituições de Colaboração: Universidad de Sevilla; Consejo Superior de Investigaciones Científicas
Duração: 18 meses (01/03/2023 a 31/08/2024)
Financiamento: 49 815,00€
Resumo: O âmbar é uma resina fóssil que desde o Paleolítico Superior tem um valor social que deriva das suas características naturais únicas. Estas tornaram profusamente utilizada e valorizada socialmente em toda a Pré-História, especialmente, como elemento de adorno, bem como um elemento simbólico.
As principais fontes naturais de âmbar exploradas na Pré-História estão localizadas na costa do Mar Báltico e na Sicília. Desde o início da investigação moderna, a presença do âmbar fora destas regiões foi considerada como um indicador da existência de redes de intercâmbio de longa distância e, consequentemente, um bem exótico e de prestígio.
Nesta base, foi construída uma sólida tradição de investigação para identificar a origem dos artefactos feitos em âmbar e que levaram à identificação dos padrões espaçotemporais do seu uso.
Dada a bem fundamentada tradição de estudos sobre esta matéria-prima de elevado valor simbólico, a caracterização de ornamentos pré-históricos de âmbar tem sido amplamente tratada nos últimos anos (Murillo-Barroso et al., 2018; Murillo-Barroso e Martinón-Torres, 2012; Odriozola et al., 2019b).
As análises FTIR confirmaram as trocas de longa distância como a principal forma de acesso ao âmbar, e permitiram a identificação de duas tendências de grande escala no fluxo de trocas, que começaram a chegar da Sicília durante o 4º e 3º milénio a.C. e a oscilar para o Báltico a partir do 2º milénio a.C.
Apesar desta tendência exógena, nas últimas décadas o foco tem sido também colocado nos depósitos geológicos de âmbar ibérico, documentando várias fontes locais de âmbar na costa cantábrica (Álvarez Fernández et al., 2005). Por outro lado continuam por caracterizar numerosos afloramentos de âmbar local, tais como os situados entre a foz do Tejo e do Mondego, em Portugal (Peñalver et al., 2018): Sangalhos, Cabo Mondego, Figueira da Foz, Valverde, praia de Santa Cruz, Catefica, zona de Algueirão, praia de Magoito, zona do Estoril-Cascais, Cabo Espichel e Sesimbra.
Apesar do reconhecido intercâmbio de longa distância entre o Báltico e o âmbar siciliano, e da falta de um registo abrangente dos espectros FTIR e GC-MS do âmbar português, os investigadores têm sido confrontados recentemente com as características espectrais similares entre o âmbar siciliano e o âmbar português, comprometendo assim a identificação da sua origem. Assim, o consumo de âmbar local em vez de âmbar exógeno alteraria totalmente o quadro de uma Europa interligada.
O principal objectivo desta proposta é localizar e caracterizar, através do FTIR e GC-MS, os depósitos de âmbar português susceptíveis de terem sido explorados na Pré-história, para criar uma biblioteca de espectros de referência estandardizados para cada um dos depósitos. Os espectros de referência padronizados dos depósitos de âmbar serão então utilizados como impressão digital dos depósitos portugueses. Estes, por sua vez, serão posteriormente comparados com espectros de artefactos arqueológicos para determinar a sua origem.
Todos os dados registados, quer em bruto quer processados, serão tornados acessíveis ao público seguindo a política europeia FAIR através de uma Infraestrutura de Dados Espaciais e de uma Base de Dados online.
Este objectivo principal é articulado em 10 objectivos específicos:
1. Localização de depósitos de âmbar através de pesquisa exaustiva de literatura científica, monitorização de actividades de colectores e amadores na internet, e levantamento intensivo.
2. Registo de informação SIG, com localização precisa das amostras recolhidas e identificadas, em base de dados PostGis.
3. Caracterização dos depósitos de âmbar pelo FTIR para obter as impressões digitais espectrais dos depósitos.
4. Caracterização do depósito de âmbar por GC-MS para obter informações mais detalhadas sobre a composição química e os processos de envelhecimento dos depósitos. Juntamente com as assinaturas espectrais de FTIR, os espectros de GC-MS permitirão uma caracterização mais precisa dos compostos de âmbar e, por consequente, dos processos de envelhecimento e origem botânica do âmbar.
5. Criação de uma biblioteca espectral portuguesa de referência do âmbar com todos os espectros FTIR e GC-MS estandardizados.
6. Análise FTIR de todos os artefactos arqueológicos de âmbar não analisados da Pré-história Recente portuguesa.
7. Análise estatística supervisionada do âmbar geológico para gerar uma ferramenta de classificação baseada num conjunto de treino composto pela biblioteca espectral (incluindo espectros para âmbar báltico, siciliano). Este servirá para afinar o modelo e obter as melhores pontuações de precisão, será utilizado um conjunto de dados de teste de amostras de âmbar com origens conhecidas.
8. Implantação de uma web-app que correrá o algoritmo para prever a origem dos artefactos arqueológicos de âmbar através da sua assinatura espectral FTIR.
9. Prever a origem dos artefactos arqueológicos de âmbar analisados.
10. Produção de cartografias temáticas e de um WMS e WFS interactivo.
iFORAL - Forais Medievais Portugueses: Uma perspetiva histórica e linguística na era digital
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/HAR-HIS/5065/2020
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de História da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Ana Filipa Roldão
Instituições Participantes: Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Universidade de Aveiro; Universidade de Coimbra; Universidade de Évora; Universidade Nova de Lisboa; Université de Lausanne
Duração: 36 meses (29/03/2021 a 28/03/2024)
Financiamento: 190 459,23€ (Global), 88 728,35€ (FLUL)
Resumo: The Kingdom of Portugal was formed in the 12th-13th centuries, by establishing its borders, defining ruling powers and securing the social-economic stabilization of its inhabitants. This construction included written pacts that secured long-duration legal relationships. Kings, on one hand, and both secular and ecclesiastical lords, on the other hand, put in writing rules governing both their relationship with the communities and the relations among the inhabitants, namely their rights and duties. Such written charters were called forais. Our project exclusively targets the municipal charters granted by kings, labelled short charters, aiming to reinterpret the nature of such documents (the circumstances in which charters were granted and their text passed on) and the role they played in the wide scope of the relationship between the municipalities and royal administration. In order to fulfil such goals, the project is guided by a key driver, i.e. an interdisciplinary approach. History and Linguistics will provide researchers with the conceptual and methodological tools required, while Digital Humanities ensure the key instruments for maximizing the potential of the results and rendering their research and dissemination effective. The main instrumental objective of our project is to create a corpus of Portuguese medieval forais, relying on a critical edition and electronically supported, for subsequent historical-linguistic reflection. This corpus shall include all Portuguese forais granted by the kings until 1279, as well as their copies and vernacular versions produced until the end of the 15th century.
ZooCHAnges - A Zooarqueologia como um indicador de colapso social durante o Calcolítico final do SW Ibérico: perspectivas desde a biometria tradicional, geometria morfométrica, dieta e mobilidade das faunas dos Perdigões
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: 2022.02053.PTDC
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Nelson Almeida
Instituições de Colaboração: Universidade do Algarve; ERA Arqueologia SA; ISEM - Institut des Sciences de l'Évolution de Montpellier; Consejo Superior de Investigaciones Científicas - Institución Milá y Fontanals
Duração: 18 meses (01/03/2023 a 31/08/2024)
Financiamento: 49 625,00€
Resumo: Durante o 3º milénio aC, evidencia-se no Sudoeste Ibérico o apogeu de uma trajectória de complexidade social, seguida por uma crise e quebra abrupta. Tal verifica-se de forma clara no registo arqueológico (e.g., cultura material, arquitectura, práticas deposicionais e funerárias) mas as causalidades externas e internas são ainda debatidas. Os restos faunísticos são uma variável importante para a análise das mudanças socio-económicas e ideológicas das sociedades da Pré- História Recente. Com a domesticação, algumas espécies ficam crescentemente mais importantes na esfera económica e ganham relevância em contextos ritualizados e cerimoniais comuns durante o Calcolítico. Novos conjuntos faunísticos do Centro e Sul de Portugal foram estudados recentemente e uma mudança nas proporções de animais domesticados/selvagens foi observada nos sítios mais interiores durante o final do Calcolítico. Para além de algumas análises pontuais no âmbito de estudos dedicados a restos humanos, os dados isotópicos de dieta e mobilidade animal são escassos, especialmente se considerarmos conjuntos numericamente relevantes que permitam aproximações estatisticamente sólidas.
Nós hipotetizamos que terão ocorrido mudanças na exploração e manejo de animais entre 2900-2000 aC, i.e., durante o Calcolítico e a transição para a Idade do Bronze no Sudoeste Ibérico. Estas mudanças podem informar acerca das causalidades, consequências e adaptações ao novo cenário socio-político do início da Idade do Bronze. Como tal, a análise das relações humanos-animais precisa de ser aprofundada.
De forma a discutir o colapso destas comunidades no Calcolítico final, o ZooCHAnges propõe uma aproximação multifacetada, focando as mudanças no tamanho de animais, dietas e mobilidade. O estatuto de domesticação de algumas espécies (e.g., bovinos, suínos, equídeos) também será considerado devido à dificuldade em avaliar o mesmo e a possível ocorrência de eventos locais de domesticação. Para tal, servir-nos-emos de estudos relacionados com o tamanho de animais, dieta e mobilidade, através de osteometria, odontometria, geometria morfométrica, isótopos de carbono, nitrogénio, oxigénio e estrôncio.
A combinação destas questões e metodologias é altamente inovadora, porquanto tal nunca foi aplicado no Sudoeste Ibérico. Para além disso, o projecto foca questões extremamente relevantes para a actualidade, relacionadas com a pecuária e a sustentabilidade, onde factores ambientais, climáticos, sociais e ideológicos estão envolvidos. A necessidade de compreender mais aprofundadamente a aplicabilidade e possíveis limitações desta aproximação transdisciplinar leva-nos a propor o ZooCHAnges como um projecto exploratório (PeX).
O factor cronológico implica uma seleção de conjuntos bem caracterizados com uma longa biografia sustentada por datações radiométricas, com um conjunto faunístico potencialmente informativo que possibilite uma análise metodológica ampla. Assim, selecionámos o recinto de fossos dos Perdigões, no Alentejo, que apresenta um dos maiores conjuntos faunísticos calcolíticos do Sudoeste Ibérico. O sítio é interpretado como um centro cerimonial com um importante consumo de recursos faunísticos devido à sua longa biografia, número de restos e sua proveniência diversa (e.g., fossas, fossos, contextos funerários). Estudos isotópicos prévios demonstraram a viabilidade deste tipo de análises em materiais dos Perdigões, mitigando os riscos associados à aplicação destas metodologias.
O projecto ZooCHAnges olha para a diacronia, mas foca os contextos mais tardios dos Perdigões (último quartel do 3º milénio aC). Como tal, iremos amostrar contextos funerários e não-funerários, tentando obter um número de amostras comparável para os diferentes períodos e entre espécies analisadas. Ainda que o sítio apresente um programa de datações robusto, sendo um dos melhor datados da Pré-História Recente Ibérica, novas datações absolutas são necessárias, sobretudo em contextos não datados de forma a situá-los adequadamente na biografia do sítio. Novos dados serão construídos com base em informações existentes, permitindo uma comparação às escalas local, regional e supra-regional. O IR reuniu uma grande quantidade de dados zooarqueológicos para sítios do Neolítico, Calcolítico e Idade do Bronze do Centro e Sul de Portugal. Estes são complementados por diversos trabalhos da co-IR e dos restantes membros da equipa. Em conjunto, estas bases de dados contêm uma grande quantidade de dados organizados esperando uma análise mais aprofundada. O projecto conta com uma equipa internacional de especialistas em arqueologia, zooarqueologia e arqueometria, tanto pesquisadores séniores como juniores, muitos dos quais já desenvolveram pesquisa nos Perdigões ou trabalharam com as metodologias propostas. Colaborações nacionais e internacionais, assim como o consultor, irão reforçar o projecto. Iniciativas de alcance público e directrizes de Ciência Aberta serão implementadas.
Financiamento Internacional
BE-ARCHAEO - Beyond Archaeology: An advanced approach linking east to west through science, field archaeology, interactive museum experiences
Entidade Financiadora: Horizon 2020: Research and Innovation Framework Programme, Marie Skłodowska-Curie actions; Research and Innovation Staff Exchange (RISE)
Referência: H2020-MSCARISE-2018-823826
Papel da FLUL: Instituição Participante
Unidade de Investigação: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
Investigador Representante da FLUL: Mariana Diniz
Instituição Proponente: Università degli Studi di Torino
Investigador Responsável: Marcello Baricco
Duração: 54 meses (01/02/2019 a 31/07/2023)
Financiamento: 724 500,00€ (Global) 99 000,00€ (FLUL)
Resumo: O projecto BE-ARCHAEO tem como objectivo central o desenvolvimento de trabalhos transdisciplinares no kofun de Tobiotsuka (cidade de Soja, província de Okayama), integrados no quadro de uma leitura regional, onde outros monumentos funerários tipo Kofun, e elementos da cultura material que atestam relações entre as antigas áreas de Kibi e Izumo (atuais prefeituras de Okayama e Shimane), serão objecto privilegiado de análise. O papel das práticas rituais e das relações de troca de média e de longa distância, entendidas num quadro de competição social - visível na densidade de kofuns já identificados no território de Soja, deve ser lido no contexto histórico de formação do Estado antigo, no Japão.
DUNES - Sea, Sand and People. An environmental history of coastal dunes
Entidade Financiadora: European Research Council
Referência: 802918
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de História da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Joana Gaspar de Freitas
Duração: 60 meses (01/11/2018 a 31/10/2023)
Financiamento: 1 062 330,00€
Resumo: Dunes are now protected environments, being top priority for coastal managers, because of their important role as coastal defences. But, it was not like that in the past. For centuries dunes were considered unproductive and dangerous. The sand blown by the wind was taken inland, invading fields, silting rivers and destroying villages. In the eighteenth century, a strategy was developed to fight against the dunes: trapping them with trees, with the double purpose of preventing the destruction of arable land and increasing their economic value converting them into forest areas. Different governments, in different countries supported the immobilization of the shifting sands. The strategy, developed in Europe, was taken to other places in the world. These works caused profound changes in vast coastal areas transforming arid landscapes of sandy dunes into green tree forests. This project aims to explore human-environment relations in coastal areas worldwide, since the eighteenth century until today, through the study of dunes as hybrid landscapes. Based on selected case-studies and comparative approaches, the project will focus on the origins, reasons and means of dunes afforestation; the impacts of the creation of new landscapes to local communities and ecosystems; and the present situation of dunes as coastal defences and rehabilitated environments. The final purpose is to produce an innovative global history of coastal dunes, combining knowledges from both Humanities and Social Sciences and Physical and Life Sciences. Supported by an interdisciplinary team, this research will result in new developments in the field of the Environmental History studies; provide relevant knowledge considering the need of efficient management solutions to adapt to the expected mean sea level rise; and stimulate environmental citizenship by disseminating the idea that the future of the world coasts depends on today’s actions.
SLAVESRELIGION - Slaves of Religion: Paternalism and Resistance, Brazil
Entidade Financiadora: European Research Executive Agency
Referência: 101065425
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de História da Universidade de Lisboa
Investigador Responsável: Maria Eugénia Rodrigues
Duração: 24 meses (01/12/2022 a 30/11/2024)
Financiamento: 172 618,56€
Resumo: SLAVESRELIGION is an interdisciplinary proposal aimed at understanding the process of implementation, exploitation and perpetuation of slavery in the properties of the Luso-Brazilian Benedictine Congregation between 1750 and 1871, highlighting issues related to Gender, Race and Slavery in the Atlantic world. It also intends to analyse the resistance strategies built by enslaved men and women against the disciplinary and moralising measures of the Order of Saint Benedict. The project aims to demonstrate that this Congregation played an important role in the construction of modern slavery, transforming it into one of the richest and most powerful Slave Orders in Brazil. The Benedictines built efficient and durable strategies for managing slaves through measures designed to control female behaviour, access to freedom, and reproduction. Despite the importance of this Congregation in the construction of modern slavery, few historians have analysed its peculiarities. There are indications that this Religious Order encouraged its slaves to own slaves. Moreover, there is also evidence that they encouraged enslaved women to reproduce in exchange for benefits (especially freedom). Besides, there are suggestions that they allowed slaves to accumulate patrimony and pass it on by inheritance to their heirs. The results of this research will be disseminated through various means, such as social media, digital platforms and seminars, among others. When concluded, the research will render three scientific articles on the peculiar slave management of the Benedictines and the resistance strategies of the enslaved population, with a special focus on slave women.
Área de Literaturas, Artes e Culturas
Financiamento Nacional
AFROLAB - A construção das Literaturas Africanas. Instituições e consagração dentro e fora do espaço de língua portuguesa 1960-2020
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/LLT-OUT/6210/2020
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias
Investigadora Responsável: Ana Paula Tavares
Duração: 36 meses (01/01/2021 a 31/12/2023)
Financiamento: 247 035,38€
Resumo: This project focuses on the institutions which shape(d) and consecrate(d) African Literatures in Portuguese (ALP). Following Helgesson and Vermeulen’s theoretical framework on Literary Institutions [HeVe16] and inspired by Claire Ducournau’s work on the institutionalization of African literatures in French [Du17], we wish to investigate the constitution of these literatures both inside the Portuguese-Language Literary Space (PLLS) and in the World Literary System (WLS).
Ducournau’s extensive work shows us convincingly how African Literatures in French are largely a French institutional creation: we assume that also the ALP are more a European creation than an African one. We also start from the assumption that the promotion of their internationalisation in translation, with the consecration and canonizing power it embeds, lays firmly in the hands of non-African agencies.
If proved, this situation would determine a North/South power asymmetry even in the institutionalization of literatures nominally imputed to the latter. The central objective of this project is to prove these assumptions through a thorough investigation of institutions involved and to map alternatives for literary formation from a peripheral space.
LITCOL-PORT: A Literatura Colonial Portuguesa: Além da Memória do Império
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: 2022.06543.PTDC
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Estudos Comparatistas
Investigadora Responsável: Inocência Mata
Instituições de Colaboração: Universidade de São Paulo
Duração: 36 meses (01/03/2023 a 28/02/2026)
Financiamento: 218 637,60€
Resumo: Este projecto propõe um estudo circunstanciado (levantamento, análise e sistematização das suas origens, o desenvolvimento e o lugar nos sistemas literários africanos e portugueses a partir de uma abordagem crítica e teórica de caráter pós-colonial) de obras literárias que constituem a chamada Literatura Colonial Portuguesa do século XX, com destaque àquelas que foram premiadas pelos Concursos de Literatura Colonial (1926-1951) e pelos Concursos de Literatura do Ultramar (1954-1971). A razão desta proposta tem a ver com o facto de, quase 50 anos após o fim do Império, essas obras não serem, grosso modo, reconhecidas como parte integrante dos sistemas literários dos países africanos de língua oficial portuguesa – embora com excepções que constituirão um dos núcleos das problematizações desta investigação – enquanto, por outro lado, ainda constituem um corpus ausente da historiografia literária portuguesa. Paralelamente, considera-se fundamental uma investigação rigorosa desse corpus, bem como da sua disseminação e fortuna crítica, à luz das demandas e das perspectivas teóricas dos chamados Estudos Pós-coloniais. Tal abordagem impõe-se como necessária para que seja possível uma crítica, urgente, da lógica e das dinâmicas culturais do Império, veiculadas por uma parte relevante desse corpus. Tratar-se-ia de uma crítica parcial ou totalmente inédita, considerando o silencio e a ausência de estudos sistemáticos sobre essa produção. Nesse sentido, incluem-se também, no presente estudo, obras publicadas após a independência das colónias portuguesas de África, mas que se entendam construírem-se sob o signo da colonialidade, participando de uma estética de subalternização, em contraponto com a ideologia estética do nacionalismo e da afirmação cultural.
Com efeito, tanto a posição histórica e ambígua dessas obras tanto a sua intrínseca relevância política convidam, quase meio século após as independências formais desses países, uma avaliação mais apurada, que as problematize a partir dos sentidos que foram percebidos pelos membros dos júris dos concursos, pelos editores, pelos críticos e pelos censores, se for o caso, em contraponto ao sentido nacionalista que as levou a serem excluídas dos sistemas nacionais africanas. Espera-se que da investigação possa emergir: 1. Uma cartografia completa e atualizada não apenas do corpus literário, como também de todo o material bibliográfico produzido em torno dessas obras; 2. Um olhar crítico menos ideologicamente esquemática para as histórias literárias, portuguesa e africanas, estas ainda por serem fixadas; 3. Um questionamento de caráter pós-colonial dos valores e das hierarquias propostas e propagandeadas por essas obras. Este último ponto torna-se sobremodo relevante, pois é também através da produção cultural (publicação de textos literários, obras cinematográficas, exposições) que o poder público português construiu e veiculou a propaganda imperial colonialista. Esses investimentos participaram da proliferação de hierarquias entre grupos étnicos, raças, culturas e saberes que, de fato, ultrapassaram as fronteiras cronológica dos impérios coloniais, tornando-se, portanto, um desafio urgente também na contemporaneidade.
ARTHE - Arquivar o Teatro
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/ART-PER/41651/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Estudos de Teatro
Investigadora Responsável: Maria João Brilhante
Instituição Participante: Instituto Universitário de Lisboa
Duração: 36 meses (14/01/2022 a 31/01/2025)
Financiamento: 246 446,28€
Resumo: O projecto ARQUIVAR O TEATRO propõe-se identificar, mapear e estudar a situação dos arquivos do teatro em Portugal, de modo a estabelecer um plano de boas práticasenvolvendo uma rede de instituições. Partindo da análise de dois importantes arquivos doados recentemente ao Centro de Estudos de Teatro /FLUL – os arquivos do Teatro daCornucópia, companhia incontornável na renovação estética e política do teatro pós 25 de Abril e de Mário Barradas, principal promotor da descentralização teatral – e estendendo ametodologia de pesquisa a outros arquivos de companhias de teatro no país, ARQUIVAR O TEATRO procura aprofundar a análise das políticas de conservação públicas e privadas,para promover a preservação, acessibilidade e estudo dos mesmos. Tendo como ponto de partida o Teatro dito “Independente” (nome que se deu ao conjunto heterogéneo decompanhias não comerciais que cresceram no pós 25 de Abril) mas não se esgotando nele, antes procurando uma cartografia alargada que lhe procure filiações, descendências erupturas nacionais e internacionais, visa igualmente contribuir para a discussão acerca do papel do arquivo na construção da memória sobre o passado recente nas artesperformativas, propondo um estudo comparativo com realidades sobretudo europeias. ARQUIVAR O TEATRO será o primeiro projecto a realizar uma aproximação a este tipo dedocumentação para identificar existências, lacunas e modalidades de arquivamento praticadas pelas companhias e instituições, com vista a construir um mapa nacional e a combatero desaparecimento de informação fundamental para conhecer as mudanças profundas introduzidas nas práticas de organização e criação de novas companhias e nas formasartísticas do teatro em Portugal a partir da década de 70.
CONSTELLATIONS - Constelações de memória: um estudo multidirecional da migração e memória pós-colonial
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/SOC-ANT/4292/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Estudos Comparatistas
Investigadora Responsável: Elsa Peralta
Instituição Participante: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
Duração: 36 meses (01/01/2022 a 31/12/2024)
Financiamento: 249 953,61€
Resumo: Esta proposta interessa-se pelas intersecções entre memória, migração e pós-colonialismo. A desintegração dos impérios coloniais europeus causou um grande movimento de pessoas (ex-colonizadores assim como ex-colonizados), do antigo mundo colonial para a Europa (EMM&MÖR1992). Como consequência, as classificações político-jurídicas de cidadania e as definições simbólicas de identidade dos estados-nação pós-imperiais europeus mudaram. Enquanto comunidades nacionais eram re-imaginadas, frequentemente com base em representações memoriais que ainda colocavam o império no centro das definições das identidades nacionais (PER2017; ROT2015), a presença de negros e asiáticos tornou-se inseparável do que significa ser europeu. Tal teve várias implicações para o funcionamento e para a dinâmica de uma Europa multicultural e para o estatuto dos sujeitos pós-coloniais dentro das suas fronteiras (LAS&DEP&PES2020). Concretamente, este Projeto dedica-se ao estudo das CONSTELAÇÕES DE MEMÓRIA criadas pelas migrações (livres ou forçadas) que acompanharam o fim dos impérios coloniais europeus e o mundo pós-colonial criado em consequência. A investigação situa-se numa geografia partilhada da memória – a do Portugal pós-colonial – e está ancorada em bairros da classe trabalhadora habitados por diferentes subgrupos de populações pós-coloniais. Serão considerados dois grupos distintos de migrantes pós-coloniais, de forma a avaliar a conexão das memórias pós(coloniais): 1) os antigos colonos portugueses (Retornados); 2) os imigrantes oriundos das ex-colónias portuguesas. CONSTELAÇÕES considera que ambos os grupos, retornados e imigrantes das ex-colónias portuguesas, ocupam um espaço partilhado, marcado por uma experiência de perturbação criada pelas relações coloniais. Alinhada com o conceito de MEMÓRIA MULTIDIRECIONAL (ROT2009), esta investigação questiona que novas constelações de lembranças são produzidas através do encontro desigual entre estes dois grupos. Focar-se-á nas histórias destes migrantes pós-coloniais e considerará as suas trajetórias migratórias, as suas memórias e identidades, assim como as suas inter-relações e redes transnacionais, tendo como pano de fundo os seus ambientes socioculturais particulares, os regimes mais amplos de memória que moldam suas experiências, e o cenário atual da crise global. Este Projeto é inovador ao sugerir uma abordagem sistémica, multidimensional e empiricamente fundamentada ao estudo da memória e das migrações pós-coloniais. Através de cruzamentos múltiplos entre grupos diferentes de migrantes pós-coloniais, contribuirá para superar uma lacuna teórica que emerge da tendência à homogeneização da diferença cultural e racial. Ademais, a investigação articula a classe social com a raça, a etnicidade e a cultura como fatores fundamentais não apenas na estruturação das histórias dos migrantes, mas também nas disputas em torno da memória colonial presentes na Europa contemporânea. A METODOLOGIA do projeto combinará: 1) entrevistas em profundidade; 2) etnografias de millieux de memória; 3) uma etnografia digital dos média sociais; 3) uma análise sociocultural de narrativas e debates sobre a memória pós-colonial. A pesquisa de terreno será realizada na margem sul da área suburbana de Lisboa, no bairro do Vale da Amoreira, habitado, após 1975, por ambos retornados e imigrantes das ex-colónias portuguesas. Os RESULTADOS do projeto combinarão formatos académicos convencionais com a produção de materiais de comunicação. Para além de vários capítulos de livros e de artigos em revistas científicas, serão organizadas dois livros coletivos e um volume especial. Será orientada uma tese de doutoramento sobre Etnografia Digital, e serão organizados dois workshops e uma conferência. A estratégia de divulgação do Projeto inclui uma exposição temporária e um documentário. Baseado numa agenda multidimensional, situada na intersecção da Antropologia, da História, dos Estudos de Memória e dos Estudos Pós-coloniais, a INTER E TRANS-DISCIPLINARIDADE está no centro deste Projeto, visando desenvolver novas abordagens transversais das Humanidades e das Ciências Sociais. A parceria entre o CEC e o ICS reforça esta estratégia de investigação. Assim, CONSTELLATIONS reúne uma equipa internacional de nove investigadores, com formação em antropologia, história, estudos da comunicação e estudos culturais. Os membros do quadro consultivo também vêm de disciplinas diferentes: Sharon Macdonald e Benoit de L’Estoile (Antropologia), Rui Pena Pires (Sociologia) and Elizabeth Buettner (História).
PORT ASIA – Escrever a Ásia em Português: mapeando arquivos literários e intelectuais em Lisboa e Macau (1820-1955)
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: EXPL/LLT-LES/1191/2021
Papel da FLUL: Instituição Proponente
Unidade de Investigação: Centro de Estudos Comparatistas
Investigadora Responsável: Duarte Braga
Duração: 36 meses (01/01/2021 a 30/06/2023)
Financiamento: 49 927,20€
Resumo: PORT ASIA – Escrever a Ásia em Português: mapeando arquivos literários e intelectuais em Lisboa e Macau (1820-1955) pretende mapear 5 bibliotecas de Lisboa e de Macau de modo a identificar livros e documentos em português (PT) de autores asiáticos. O conjunto de impressos, manuscritos e datiloscritos será apresentado ao leitor/usuário através de um catálogo em livro. Junto com um sítio online de acesso livre, tornarão clara a existência desses materiais e autores como um novo corpus para estudo e análise. A equipa trabalha com a hipótese de uma escrita asiática em língua PT que precisa de ser identificada e divulgada. Pretende dar provas efetivas de que ela existe, desde 1820 até 1955, num período que vai desde o crescimento da imprensa nas colónias lusas até à Conferência de Bandung. O critério para a escolha destes autores é o da forte conexão, biográfica ou outra, aos seguintes territórios: Moçambique, Malaca, Goa, Macau e Timor. Não se trata de uma seleção étnica ou nacional, porque os autores têm origens plurais: naturais, lusodescendentes ou membros de comunidades crioulas, apesar de todos poderem ser considerados asiáticos. Esta produção encontra-se não só na Ásia mas também nas instituições da capital, na ex-metrópole. A equipa também fará investigação em duas bibliotecas de Macau de modo a construir redes de investigação que não se cinjam a Portugal. Ao serem tomados em conjunto, os acervos destas diversas instituições, junto com o amplo escopo temporal e espacial, permitirão a recolha bem-sucedida de um corpus significativo de textos. Trata-se de construir um arquivo dentro dos arquivos, pois estes livros e documentos são marcadamente marginais, quer no contexto dos arquivos portugueses, quer no da Ásia, quer ainda no do império PT. Encaramos o arquivo como uma metáfora destas tradições de escrita, mas também como a única forma de acesso à escrita asiática em PT, conceito até agora inexplorado. Essa escrita precisa antes de mais de ser reconstituída a partir dos seus próprios materiais, constantes em arquivos. A nossa abordagem baseia-se no contacto direto com os acervos materiais como base para a construção de propostas críticas, explorando a hipótese da existência de tradições de escrita que incluam também a crítica. Propomos uma ideia de literatura que inclui outras formas de produção intelectual (historiografia, etnografia), muitas vezes mais comuns em pequenos meios, e que propicia melhores resultados do que a busca exclusiva pelas formas típicas da escrita criativa. Esta questão raras vezes foi colocada, já que os estudos portugueses estão enraizados numa visão profundamente nacionalista do mapa de língua PT como sendo um conjunto de 8 nações. Este projeto pretende, assim, superar a visão nacionalista e centrada na língua como critério-chave para a definir. Tem se preferido pensar na produção dos espaços asiáticos ou de forma independente (literatura de Macau, literatura goesa); outros estão ainda numa fase de identificação (Timor, Malaca) e outros ainda não são encarados nesta perspetiva (Moçambique), ainda que pertencentes também a uma plataforma (afro)asiática de circulação de bens materiais e simbólicos. Deste modo PORT ASIA constitui uma fase prévia de investigação sobre a possibilidade de existência autónoma das literaturas da Ásia em PT. Antes de pensar na criação de uma nova disciplina dentro dos estudos portugueses, o que aqui propomos é um comparatismo entre territórios insulares (uma metáfora da sua natureza dispersa), aos quais não pretendemos conferir uma unidade maior do que a sua inscrição num contexto (afro)asiático. Com efeito, traz-se uma leitura asiocêntrica na qual a língua PT não necessariamente garante sentidos unificadores para esta produção. Assim, o projeto parte dos instrumentos conceptuais e metodológicos dos Estudos Comparados, numa forte ótica interdisciplinar, trabalhando para a exploração de um campo de conhecimento novo e localizado. PORTASIA está diretamente ligado às principais áreas de investigação desenvolvidas pelo IR, também se baseando em trabalhos anteriores realizados pelo grupo Orientalismo PT no CEC-UL, que já acolheu outros projetos financiados pela FCT, nomeadamente o TECOP, sob a supervisão do Co-IR. Ambos possuem uma experiência significativa em projetos de investigação semelhantes (Fapesp), e na supervisão de projetos financiados (Gulbenkian). Todos os membros da equipa têm experiência arquivística; a sua investigação preliminar demonstrou que o material visado é quantificável dentro do prazo e que os arquivos selecionados são um ponto de partida apropriado. O objetivo final é a criação de um catálogo, apoiado por um sítio web, que sirvam como importante ferramenta de trabalho bem como bibliografia fundamental dessa produção, permitindo a análise comparada. O catálogo/website constituirão uma recolha coerente de referências, congregando a localização material de espólios de modo a permitir o estudo em conjunto destes materiais dispersos.
WomenLit - Literatura de Mulheres: Memórias, Periferias e Resistências no Atlântico Luso-Afro-Brasileiro
Entidade Financiadora: Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Referência: PTDC/LLT-LES/0858/2021
Papel da FLUL: Instituição Participante
Unidade de Investigação: Centro de Estudos Anglísticos
Investigador Representante da FLUL: Ana Fernandes
Instituição Proponente: Universidade Nova de Lisboa
Investigador Responsável: Margarida Rendeiro
Outra Instituição Participante: Centro de Estudos Sociais
Duração: 36 meses (01/01/2022 a 31/12/2024)
Financiamento: 247 459,65€ (Global), 6 988,00€ (FLUL)
Resumo: Este projeto tem como objetivo analisar as configurações poético-literárias da resistência na produção literária e artística de autoria de mulheres publicada no espaço luso-afrobrasileiro no século XXI. A resistência, enquanto estímulo da atividade performativa e literária, decorre da perceção de desigualdades generalizadas à escala mundial, sejam elas de género, racial ou económica, entre outras. No que concerne a desigualdade de género, esta é uma questão que, embora tenha conhecido avanços significativos a partir de meados do século XX, ainda se encontra longe de estar ultrapassada. Se considerarmos o espaço luso-afro-brasileiro, as desigualdades de género estão ainda muito presentes. Segundo dados estatísticos publicados pelas Nações Unidas, e a título exemplificativo, o número de mulheres que ocupa lugares nos parlamentos nacionais varia entre 13,73% (S. Tomé e Príncipe) e 39,60% (Moçambique), com todos os valores referentes aos outros países de expressão oficial portuguesa registados neste intervalo. A participação da mulher no trabalho formal nestes países varia entre 28,8% (S. Tomé e Príncipe) e 78,1% (Moçambique). As Agendas Temáticas de Investigação e Inovação asseguradas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, decorrentes do compromisso com o Conhecimento e a Ciência assumido em Conselho de Ministros em 2016, refletem igualmente a dimensão da desigualdade ao determinar a Inclusão Social e Cidadania nas suas diferentes vertentes. Este projeto assume na construção da voz feminina um modo de expressar resistência, dando visibilidade a projetos literários e artísticos que reagem contra as diversas expressões da desigualdade e injustiça. Discutir estes trabalhos como reflexos da desigualdade de género prevalecente e, particularmente, as estratégias criativas usadas para representar formas de resistência é contribuir para a promoção de uma melhor cidadania e inclusão social. O espaço luso-afro-brasileiro foi recentemente explorado em [RenLu19] por parte dos membros da equipa que apresenta este projeto, com o enfoque na produção contemporânea nas artes visuais, cinema, música e literatura, identificando especificidades e relacionando com o contexto histórico-social em que se inserem. Embora esse projeto se tenha centrado no espaço luso-afro-brasileiro, a escrita de mulheres não constituiu preocupação desse estudo. A representação do “comum” e das especificidades da experiência de autoras mulheres no espaço luso-afro-brasileiro ilumina-se ao adotar uma abordagem comparatista e interseccional. Neste sentido, o presente projeto analisa produções artístico-literárias de mulheres portuguesas, brasileiras e africanas de expressão portuguesa, cruzando particularmente os olhares e as vozes brancas, negras, afrodescendentes, de etnia cigana e indígenas que resistem à ordem estrutural no espaço luso-afro-brasileiro e identificando as características específicas e comuns das recentes organizações culturais e políticas das mulheres periféricas que estruturam os seus projetos literários como resistência, nomeadamente em tempos de adversidade, como o exemplifica a produção artístico-literária em contexto de pandemia. Ao centrar a sua investigação nas configurações poético-literárias da resistência na escrita das mulheres neste espaço geográfico, este projeto discute igualmente a influência da pós-memória colonial, procurando compreendê-la como reflexo da memória das desigualdades de género que caracterizam a comunidade luso-afrobrasileira como espaço multicultural. Este projeto, que conta com a participação de investigadores com trabalho publicado sobre temáticas relacionadas com mulheres, periferia e resistência, focará a publicação de material crítico sobre a resistência enquanto representação artístico-literária, procurando: a) analisar em que medida a literatura promove e atende as demandas políticas, sociais, raciais que estimulam esta escrita por mulheres; b) analisar as formas de divulgação e a formação do público leitor para a literatura periférica das mulheres; c) contribuir para uma historiografia literária, particularmente da chamada literatura marginal, no espaço luso-afro-brasileiro, assegurando a visibilidade da escrita das mulheres; d) analisar a produção de significados a partir dos distintos lugares de fala da mulher em obras de autoras portuguesas, brasileiras e africanas de expressão portuguesa, particularmente depois da instauração das independências no caso das últimas; e) Identificar nas obras dessas mulheres as formas como o legado de autoras que as precederam se manifesta e se renovam configurações de resistência.