Português Língua Estrangeira na China: “Foi o português que me escolheu a mim”

No próximo mês de julho, o Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (ICLP) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa irá receber no seu 81.º curso de verão de português Liu Wei, aluna da licenciatura em língua portuguesa da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim e vencedora do Prémio Tomás Pereira, distinção atribuída anualmente aos melhores alunos chineses de português em cada um dos quatro anos de licenciatura.

img 7370 copiaUma iniciativa da Embaixada de Portugal em Pequim, o Prémio Tomás Pereira conta com o apoio da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, através do ICLP, e de outras três universidades portuguesas, oferecendo aos premiados a possibilidade de frequentarem um curso intensivo de língua portuguesa no nosso país.


O apoio do ICLP ao Prémio Tomás Pereira vem evidenciar o forte envolvimento da Faculdade de Letras da ULisboa no ensino e aprendizagem de Português Língua Estrangeira (PLE) na China e as várias relações de cooperação já estabelecidas com instituições de ensino chinesas.

 

 

Tomás Pereira, missionário e cientista


800px tomas pereira copiaO Prémio Tomás Pereira, entregue em cerimónia decorrida na Embaixada de Portugal em Pequim, no passado mês de dezembro, pretende não só destacar o impacto da língua portuguesa junto dos alunos do ensino superior chinês, mas também homenagear uma das mais significativas personalidades portuguesas no contexto das relações entre Portugal e a China. Missionário jesuíta e cientista, nascido em Famalicão em meados do séc. XVII, Tomás Pereira estabeleceu-se em Macau, em 1672, tendo vivido na China até à sua morte, em 1708. Reconhecido matemático, astrónomo, geógrafo e músico junto da corte do Imperador Kangxi, deve-se a Tomás Pereira a transcriação dos termos musicais ocidentais em língua chinesa e a conclusão de vários tratados sobre budismo chinês e sobre música, entre outros temas. O missionário desempenhou, ainda, um papel fundamental na negociação do Tratado de Nerchinsk (1689), primeiro acordo fronteiriço entre a China e a Rússia, entre outros contributos.

 

A língua portuguesa na China

“Na verdade, foi o português que me escolheu a mim” afirmou Liu Wei, em entrevista à agência Lusa a propósito da sua distinção com o Prémio Tomás Pereira, justificando, assim, a escolha da língua portuguesa como área de estudo, face a outras possibilidades, entre elas, o espanhol. O interesse dos estudantes chineses pela língua portuguesa não é, aliás, novidade. Em 1960 foi criado o primeiro curso de licenciatura em língua portuguesa no Instituto de Radiodifusão de Pequim (atualmente, Universidade de Comunicação da China), com 18 alunos, respondendo a necessidades existentes no mercado de trabalho (sobretudo, na diplomacia) que eram, até então, supridas por especialistas em outros idiomas. Hoje, a China continental contabiliza mais de 2.000 licenciados em português, a par com 1.600 estudantes a frequentar licenciaturas em língua portuguesa, distribuídos por 21 universidades.

As relações económicas e de cooperação entre a China e Portugal, bem como com outros países da lusofonia, e a consequente procura por licenciados em língua portuguesa pelo mercado de trabalho chinês, a relevância do português enquanto língua com uma das maiores percentagens de falantes do mundo, bem como as ligações históricas entre Portugal e a China e a relevância estratégica de Macau na difusão da língua e a cultura portuguesas, poderão constituir-se como algumas das motivações para a aprendizagem do português por estudantes chineses.

 

 

Cooperação da FLUL com universidades e outras instituições chinesas


destaqueConsciente do papel fundamental das instituições de Ensino Superior portuguesas no âmbito do ensino da língua portuguesa, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa tem sido, desde há vários anos, uma das instituições nacionais mais empenhadas no estabelecimento de relações de cooperação com universidades e outras instituições chinesas, quer no âmbito do ensino, quer da aprendizagem. Em 2015, tendo como objetivo reunir docentes que lecionam e investigam o português na Ásia, e em especial, na China, a Universidade de Macau, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e a Beijing Foreign Studies University organizaram conjuntamente uma Conferência sobre Ensino e Aprendizagem de Português como Língua Estrangeira (PLE) que teve lugar em Macau e durante a qual foi abordado não só o ensino da língua, mas também a certificação da formação em PLE, área em que o CAPLE (Certificação de Português Língua estrangeira, sediado na FLUL) tem tido um papel fundamental. São, também, de salientar as parcerias estabelecidas entre o Instituto de Cultura e Língua Portuguesa da FLUL e a Guangdong University of Foreign Studies, a Harbin Normal University, a Sun Yat-Sen University, a Tianjin Foreign Studies University, a Zhejiang International Studies University, entre outras instituições, parcerias que têm viabilizado a frequência de cursos de PLE, na FLUL, por inúmeros alunos chineses.

c flulA formação de docentes chineses em PLE e o ensino do mandarim em Portugal têm sido, também, eixos de intervenção da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, nomeadamente através do Instituto Confúcio da ULisboa (ICUL), sediado na FLUL. Num percurso de fortalecimento do ensino das línguas portuguesa e chinesa nos dois países, foi criado, em maio de 2014, um Consórcio para o ensino do português na China e do chinês em Portugal, entre a Universidade de Lisboa (FLUL e ICUL) e a Beijing Foreign Studies University, cuja assinatura ocorreu por ocasião da visita oficial do Senhor Presidente da República à China, e na sua presença, sendo ainda testemunhada pelo Senhor Vice-Ministro da Educação da China, Doutor Hao Ping e pelo Senhor Ministro da Educação e da Ciência, Professor Doutor Nuno Crato. Associada a esta ocasião, decorreu em Pequim, uma Conferência sobre o Ensino de Português e de Chinês, em que participaram docentes da FLUL e do ICUL. Em julho de 2015, o Ministério da Educação e Ciência assinou um protocolo de colaboração com o Instituto Confúcio da República Popular da China (Hanban) no âmbito do ensino do mandarim em Portugal, que estabeleceu a coordenação do ensino desta língua pela Universidade de Lisboa (através da FLUL e do ICUL) em estabelecimentos de ensino nacionais da Área Metropolitana de Lisboa. Ainda em 2015, o Diretor da FLUL e as Diretoras do Instituto Confúcio participaram no 10.º Congresso anual dos Institutos Confúcio, que teve lugar em Xangai, e que reuniu 2.300 participantes de 136 países, onde a FLUL teve oportunidade de reforçar o seu empenho no acolhimento de alunos chineses na Faculdade e no ensino de PLE a futuros docentes chineses que venham a trabalhar em países de língua oficial portuguesa.

 

Fontes:
2.ª Conferência da Língua Portuguesa no Sistema Mundial (acedido em 22/06/2016)
Observatório da Língua Portuguesa  (acedido em 22/06/2016)
Agência Lusa via portal Sapo  (acedido em 22/06/2016)

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