Evolução linguística em foco na 5.ª edição das Lisbon Lectures in the Humanities

Salikoko Mufwene marcou presença, no passado dia 8 de Novembro, na 5.ª edição do ciclo de grandes conferências internacionais organizadas pelas Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa – Lisbon Lectures in the Humanities (LLH).

llh salikoko novembro2023Professor Emérito de Linguística na Universidade de Chicago, instituição onde trabalha desde 1991, tem uma extensa carreira ligada à academia, estabelecendo frequentemente pontes entre a linguística e outras áreas de conhecimento. Na Universidade de Chicago integra o comité de Biologia Evolutiva, o comité de Estudos Conceptuais e Históricos da Ciência e também o comité de Estudos Africanos. É membro da American Philosophical Society, da American Academy of Arts and Sciences e da Cátedra Mondes Francophones no Collège de France.

A sua apresentação «Making Sense of the Ecology of Language and Linguistic Ecosystems» era aguardada com expectativa pelos apaixonados pela linguística e pelos demais interessados, que preencheram os lugares do Anfiteatro I. Reconhecido pela sua abordagem à evolução das línguas e, em particular, das línguas crioulas na perspectiva da biologia evolutiva, rejeitando o excepcionalismo linguístico, Mufwene explicou de forma simples o que é complexo.

Começando por definir ecologia e ecossistema, detalhou a forma como a ecologia de uma pessoa pode afectar o sistema ecológico de outra, influenciando, por exemplo, a sua forma de estar num determinado ambiente. De seguida, Mufwene recuou até ao tempo em que a comunicação se fazia sem língua e desconstruiu algumas ideias relativamente à existência de línguas superiores e inferiores, abordando as interpretações tradicionais sobre o modo como a comunicação entre seres humanos evoluiu, confrontando-as com uma abordagem uniformitarista, considerando todos os idiomas como sistemas complexos – tanto no passado, como no presente. E esta complexidade não assenta apenas na linguística, mas também nas características populacionais, nos factores sociais, históricos, políticos, culturais e económicos – um exemplo claro da influência da ecologia na evolução da língua é o contacto entre estruturas populacionais diferentes, como aconteceu no colonialismo.

E é também no termo crioulo que o Professor Mufwene quebra a tradição, questionando a estigmatização criada em redor de alguns idiomas que assumem uma nova estrutura de acordo com o ambiente socio-cultural. Contudo, apesar de serem línguas naturais como outras quaisquer, são por vezes tratados como excepcionais, o que leva o Professor a equipará-las, por exemplo, a línguas europeias que têm como base o Latim, que também foram fortemente reestruturadas em função das condições dos ecossistemas em que se constituíram.

Levantando muitas questões sobre a forma como a evolução das línguas é abordada, Salikoko Mufwene captou a atenção de cerca 150 participantes numa sessão de duas horas, mas com conteúdo e interesse suficiente para muito mais.

A abertura da conferência foi feita pelo Professor Doutor Miguel Tamen, Director da Faculdade de Letras, que realçou a importância desta iniciativa no campo das Artes e Humanidades, recuando até à sua primeira conferência em 2019 e ao êxito das edições anteriores, considerando as LLH já “uma tradição” da Faculdade de Letras. Seguiu-se a intervenção do Professor Tjerk Hagemeijer, do Departamento de Linguística Geral e Românica, que teve a missão de apresentar o Professor Mufwene. Assinalando a distinta carreira do convidado, o discurso do Professor Tjerk enalteceu a abordagem crítica do convidado, uma característica que já o definia em criança, quando “costumava questionar os métodos coloniais [no Congo belga]. Mas, em retrospectiva, podemos dizer que estes foram os primeiros sinais do profundo espírito intelectual e crítico que caracterizam a sua vida e obra”.

A conferência contou ainda coma presença do Professor Doutor Arnaldo Espírito Santo, Presidente da Associação para o Desenvolvimento da FLUL (ADFLUL), entidade que apoiou a iniciativa. As LLH tiveram ainda como parceiros media a RTP2 e o jornal Público.